SAPATILHA ESPÍRITA



“... Sim, certamente o Espiritismo abre á arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado; e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.”
Allan Kardec

terça-feira, 25 de maio de 2010

A Inspiração




A arte, sob suas diversas formas, é a expressão da beleza eterna, uma manifestação da poderosa harmonia que rege o universo; é a irradiação do Alto que dissipa as brumas, as obscuridades da matéria, e faz-nos entrever os planos da vida superior. Ela é, por si mesma, rica em ensinamentos, em revelações, em luz. Ela encaminha a alma para as regiões da vida espiritual, que é sua verdadeira vida, e a que ela aspira reencontrar um dia.
A arte bem compreendida é poderoso meio de elevação e renovação. É a fonte das mais puras alegrias; ela embeleza a vida, sustenta e consola nas provas e traça com antecedência para o espírito os caminhos do céu. Quando ela é sustentada, inspirada por uma fé sincera, por um nobre ideal, a arte é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de civilização e aperfeiçoamento.
Porém, com bastante freqüência nos dias atuais, ela é aviltada, desviada de seu objetivo, subjugada a mesquinhas teorias de escola e é sobretudo considerada um meio de se chegar à fortuna, às honras terrestres. É empregada para lisonjear às más paixões, para superexcitar os sentidos e assim faz-se dela um meio de rebaixamento.
Quase todos aqueles que receberam a sagrada missão de encaminhar as almas para a perfeição esquivaram-se dessa tarefa. Tornaram-se culpados de um crime ao se recusarem a instruir e a iluminar as sociedades e ao perpetuarem a desordem moral e todos os males que recaem sobre a humanidade. Assim explicam-se a decadência da arte em nossa época e a ausência de obras fortes.
O pensamento de Deus é a fonte das altas e sãs inspirações. Se nossos artistas soubessem daí extrair algo, encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores felicidades. O espiritismo vem oferecer-lhes os recursos espirituais dos quais nossa época necessita para regenerar-se. Ele nos faz compreender que a vida, em sua plenitude, não é outra coisa senão a concepção e a realização da beleza eterna.
Viver, é sempre subir, sempre crescer, sempre desenvolver em si o sentimento e a noção da beleza eterna.
As grandes obras não são elaboradas senão no recolhimento e no silêncio, ao preço de longas meditações e de uma comunhão mais ou menos consciente com o mundo superior. A algazarra das cidades pouco convém à elevação do pensamento; ao contrário, a calma da natureza, a profunda paz das montanhas, facilitam a inspiração e favorecem a eclosão do gênio. Assim verifica-se uma vez mais o provérbio árabe: o ruído pertence aos homens, o silêncio pertence a Deus!
O espírita sabe que imenso auxílio à comunhão com o Além, com os espíritos celestes, oferece ao artista, ao escritor, ao poeta. Quase todas as grandes obras tiveram colaboradores invisíveis. Essa associação fortifica-se e acentua-se através da fé e da prece. Estas permitem que as forças do Alto penetrem mais profundamente em nós e impregnem todo o nosso ser. Mais do que qualquer outro, o espírita sente as poderosas correntes que passam nas frontes pensativas e inspiram idéias, formas, harmonias, que são côo o material do qual o gênio se servirá para edificar sua soberba obra.
A consciência dessa colaboração dá a medida de nossa fraqueza; ela nos faz compreender que parcela vem da influência de nossos irmãos mais velhos, de nossos guias espirituais, daqueles que, do espaço, debruçam-se sobre nós e nos assistem nos trabalhos. Ela nos ensina a nos maternos humildes no sucesso. É o orgulho do homem que esgotou a fonte das grandes inspirações. A vaidade, defeito de muitos artistas, torna insensível o espírito e afasta as grandes almas que consentiriam em protegê-los. O orgulho forma como que uma barreira entre nós e as forças do Além.
O artista espírita tem consciência de sua própria indigência, porém sabe que acima de si abre-se um mundo sem limites, pleno de riquezas, de tesouros incalculáveis, perto dos quais todos os recursos da Terra são apenas pobreza e miséria. O espírita tem também o conhecimento de que esse mundo invisível, se deste ele souber tornar-se digno purificando seu pensamento e seu coração, pode tornar mais intensa a ação do Alto, fazê-lo participar de suas riquezas através da inspiração e da revelação, e dela impregnar obras que serão como que um reflexo da vida superior e da glória divina.

Léon Denis - O Espiritismo na Arte