SAPATILHA ESPÍRITA



“... Sim, certamente o Espiritismo abre á arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado; e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.”
Allan Kardec

domingo, 31 de maio de 2009

DANÇA CONTEMPORÂNEA E ESPIRITISMO:CAMINHOS PARA O CONHECIMENTO

“A dança é um ato litúrgico do cosmo quando parteja. O que nasce, dança. O que vive, dança.
E o que
morre permuta outro campo de movimento ... inicia novo círculo de expressão com nova significação!”

(Espírito Ananda, 2003- Casa de Oração Fé e Amor)

Gostaria de compartilhar neste texto conceitos que, acredito, aproximam a linguagem da dança contemporânea e o Espiritismo. Portanto, achei conveniente relatar um pouco da minha trajetória pessoal entre estes dois universos, a fim de que, possamos entender de onde surgiram estes possíveis diálogos e juntos busquemos outras proximidades.
Sou bailarina e espírita. Atuo como coreógrafa, professora e pesquisadora de dança contemporânea. Graduada pela Universidade Estadual de Campinas e especialista em estudos contemporâneos da dança pela Universidade Federal da Bahia, em parceria com a Faculdade Angel Vianna, no Rio de Janeiro. Integro o Grupo das Excaravelhas de dança contemporânea em Campinas. Escolhi trabalhar como arte-educadora ou artista-docente como define [1]Isabel Marques.
Há mais ou menos sete anos tornei-me adepta do Espiritismo, o que causou – me uma significativa transformação no meu modo de perceber e conceber a vida. A Doutrina Espírita revelou-me a riqueza do evangelho de Jesus através do conhecimento amplo que Ele possui sobre o amor e o amar. A Doutrina Espírita me revelou ainda, na sua filosofia, a crença na vida após a morte, a possibilidade de comunicação entre encarnados e desencarnados e a reencarnação.
O maior aprendizado que obtenho na Doutrina Espírita é exatamente que todos nós um dia encontraremos a Deus e que para isso é necessário que superemos as nossas imperfeições representadas no Espiritismo pelo tripé da: vaidade, do orgulho e do egoísmo. Mas, como superar as nossas imperfeições? Conhecendo-nos a nos mesmos. Esta é a grande chave que nos é ofertada pelo Espiritismo.
Durante todos estes anos de atuação com a dança e por tanto com a arte, venho justamente procurando compreender de que maneira a dança me ajuda a construir conhecimento sobre o mundo e sobre mim mesma. Tive oportunidade de me apropriar de algumas técnicas da dança moderna e de algumas linguagens de danças brasileiras, passando pela capoeira, congos, maculelê, samba - de – roda e outras manifestações da cultura popular brasileira.
No entanto, foi na dança contemporânea que encontrei sentido para prosseguir construindo conhecimento. O motivo maior desta escolha está relacionado aos princípios históricos a que ela se atrela.
Na década de 60, período em que a dança contemporânea efervescia nos Estados Unidos, o palco italiano deixava de ser o lugar exclusivo da dança, que passa a invadir os espaços públicos. Coincidentemente foi em uma igreja em Nova York, a Judson Memorial Church, que um grupo de bailarinos realizou uma variedade de experimentações, questionando o que poderia ser nomeado como dança e em quais espaços essa arte poderia ocupar e se expor. (Salles, 2006)
A proposta era encurtar as distâncias entre artista e público, tanto através dos espaços ocupados, como através da movimentação utilizada nas criações, nas quais foram introduzidas gestuais comuns ao cotidiano popular. Outra possibilidade aberta nesta proposta foi o diálogo entre diferentes estilos de dança e práticas corporais, buscando encontrar nas diferenças as congruências de sentidos e significados.
Este pensamento ideológico possibilitou uma diversificação da linguagem da dança, no sentido em que ela pôde acolher diferentes meios de manifestação pelo movimento. Caem por terra verdades absolutas de corpos específicos adequados à dança, de artistas superiores a espectadores, de apenas uma forma de dança adequada a simbolizar, leveza, tristezas, amores, morte, assim como, a idéia de que a dança sempre é uma manifestação de alegria e beleza.
As relações e experiências humanas são consideradas pela dança contemporânea como um recurso de criação essencial, pois estas experiências revelam-se nos relacionamentos como um conhecimento sobre o indivíduo e deste sobre o mundo. Uma vez que ela não possui um código de movimentos pré-estabelecido, como encontramos na dança clássica, por exemplo, a dança contemporânea permite ao seu intérprete-criador, elaborar e construir os seus próprios códigos de movimentos, de acordo com o conhecimento e os sentimentos que possui, tanto no aspecto técnico da dança como no aspecto moral. Dançar é sua forma pessoal de interpretar o mundo. É o seu caminho pessoal com Deus.
Ao criarmos e elaborarmos códigos de movimentos, encontrarmos representações na linguagem da dança para nossos sentimentos ou percepções do mundo, consequentemente reelaboramos idéias e conceitos de nós mesmos ou da sociedade na qual estamos inseridos. Além de revermos conceitos, temos a possibilidade de criarmos através da arte, universos imaginários onde a poesia pode substituir a apatia. Ou seja, abrimos espaços para a transformação da nossa realidade.
O ato de criar é portanto, um ato de construção de conhecimento e de transformação do ser humano. Uma vez que para sonhar com um novo homem e uma nova sociedade é preciso primeiramente tomar a consciência do nosso atual estado evolutivo, sabendo que ele é temporário e passageiro e assim, aspirarmos condições mais elevadas.
É justamente neste aspecto que a dança contemporânea e a Doutrina Espírita se aproximam, na minha opinião, partindo do princípio de que expressamos exatamente aquilo que somos e pensamos, mas não estamos presos a estas formas. Deus nos possibilitou a capacidade de modificá-las através do nosso esforço próprio e do nosso aprendizado.
Entretanto todas estas etapas de construção de conhecimento só terão sentidos quando o maior deles for adquirido. A de que Deus rege todas as coisas do universo e que portanto sendo eu parte do universo também sou regida por Deus.
O caminho desta mudança no entanto, é percorrido num tempo indeterminado e em espaços variados onde o Espírito pode habitar. Assim, tal qual na dança, é o movimento, o tempo, o espaço, que estimula o surgimento da beleza, do novo, em detrimento do velho.



Uma vez que, somos Espíritos eternos e que sabemos que a nossa evolução ocorre na terra, assim como em outros planetas, à medida que, nos transformamos vamos modificando também nossos códigos de movimentos e nossas expressões. Vamos modificando as nossas forma de dançar, de representar a nós mesmo e ao mundo. Eis aqui mais um diálogo possível da linguagem da dança contemporânea com o Espiritismo, pois ela representa o estágio evolutivo do nosso Espírito.
Em suma; chegar a Deus no estágio que nos encontramos é um percurso composto de muitas vicissitudes e dos vícios que trazemos desta e de outras encarnações. O processo de criação da dança contemporânea, sob a luz do Espiritismo, nos permite encontrar a beleza apesar das sombras. Ou seja, ela não mascara as nossas imperfeições e as nossas dificuldades, mas ela aponta caminhos por meio da arte do movimento de transformamos esta realidade, em uma nova realidade com Jesus que nos ensina a amar buscando o verdadeiro sentimento de humanidade:
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo
(Mateus 22:37-39)
Dançar perpetua o movimento do eterno e do divino em nós.

[2]Nascer, Morrer, renascer ainda e Progredir sem cessar, tal é a lei
(Allan Kardec)

[3]O que vive, dança. E o que morre permuta outro campo de movimento...inicia novo círculo de expressão com nova significação!”
Bibliografia Utilizada:
ALLAN, K. (1857)- O Livro Dos Espíritos de Estudos-tradução Francisco Maugeri-1ª.edição (2007). Cáritas Editora – Campinas.
ALLAN, Kardec. (1864)- – O Evangelho Segundo O Espiritismo de Estudos -tradução – Francisco Maugeri – 1ª. edição (2004). Cáritas Editora – Campinas.
BANES, S.(1987) Terpsichore in Sneakers. Connecticut, Wesleyan- University Press.
HAY, Débora. Artigo (s/ data) : Comprimentos de Ondas ou Fio Telefônicos? In: DALY, Ann (org). Em que se Transformou a Dança Contemporânea?.
SALLES, Paula. (2006) Dançando o Sagrado na Contemporaneidade. Monografia de conclusão do curso de Especialização em Estudos Contemporâneos de Dança pela UFBA e pela Faculdade Angel Vianna.
Referências Bibliográficas:
BOURCIER, Paul. (1987). História da Dança no Ocidente. Editora Martins Fontes. São Paulo.
In, BREMSER, M. (1999) - Fifty Contemporary Choreographers
Selection and editorial matter-
CORTES, Gustavo Pereira - Dança, Brasil: festas e danças populares
MARQUES, Isabel (1999) – Ensino de Dança Hoje: textos e contextos. São Paulo: Editora Cortez.
GOLBERG, K (s/d). –Performance – Live art since the 60’
PORTINARI, Maribel (1989) –História da Dança – Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira



[1] Profa. Dra. Isabel Marques, fundadora e diretora da Caleidos Cia de Dança. Vide o livro o Ensino da Dança Hoje: textos e contextos. 1999.

[2] Frase escrita no túmulo de Allan Kardec
[3]Vide introdução do texto.

DANÇA ESPÍRITA: O QUE SABEMOS ?

por Denize de Lucena[1]




Esperançosos de que também a dança, se faça colaboradora deste sublime momento de ascensão da arte divinizada, que como bem previu o insigne codificador (1995, p. 327) "em breve, vereis os primeiros esboços da arte espírita, que mais tarde ocupará o lugar que lhe compete", iniciamos nosso diálogo sobre esta linguagem que tanto nos encanta.

Antes de polir a pedra e construir abrigos, os homens já se movimentavam ritmicamente para se aquecer e comunicar.
Considerada a mais antiga das artes, a dança é também a única que dispensa materiais e ferramentas. (...) As danças coletivas também aparecem na origem da civilização e sua função associava-se à adoração das forças superiores ou dos espíritos para obter êxito em expedições guerreiras ou de caça ou ainda para solicitar bom tempo e chuva. (...) No antigo Egito, 20 séculos antes da era cristã, já se realizavam as chamadas danças astroteológicas em homenagem ao deus Osíris. O caráter religioso foi comum às danças clássicas dos povos asiáticos. (ANDRADE, 2000)


Ligada ao homem e ao sagrado, a dança não raro, está presente nas manifestações ritualísticas de quase todas as civilizações antigas e se mantém viva, em muitos agrupamentos religiosos da contemporaneidade. Desde o aparecimento do próprio homem, há registros de sua presença nas pinturas rupestres e nas primeiras grandes civilizações como Grécia, Índia e Egito. De caráter mágico, logo passou a ser conduzida por iniciados e sacerdotes, sendo geralmente circular e coletiva.

(...) na medida em que a arqueologia consegue traduzir as inscrições dos "povos pré-históricos", ela nos indica a existência da dança como parte integrante de cerimônias religiosas, nos permitindo considerar a possibilidade de que a dança tenha nascido a partir ou de forma concomitante ao nascimento da religião. (MOURA, 2007)

Após um longo período de isolamento e proibições durante a Idade Média, a dança foi resgatada pelas cortes da Itália renascentista, dando-lhe um caráter de virtuose, passando a ser executada em pares. Sua crescente lapidação e exigência técnica deram origem ao ballet clássico e à profissionalização desta arte. Iniciado na Itália, desenvolvido em França e aprimorado na Rússia, o ballet, devolveu à mulher a possibilidade de participar da dança, dando-lhe o tom sublime, leve e puro da mulher-princesa, da mulher-divina, da mulher-amada que irá permear o ballet de repertório[2].
As mudanças ocorridas no século 20, em especial na sua segunda metade, causaram transformações em vários setores da sociedade, inclusive o da dança, fazendo nascer diversas categorias e técnicas. Nomes como Isadora Duncan, George Balanchine, Pina Bausch, Martha Graham e Rudolf Laban, dentre muitos outros, irão colaborar para o desenvolvimento e a profissionalização da arte da dança.
Para nos orientar no estudo do nosso objeto em questão – a dança espírita – vamos começar por um conceito. Como a definição comum de adjetivo é palavra que qualifica o substantivo, podemos entender aqui, que espírita agrega qualidade à dança. Assim, vamos defini-la como a dança pensada e executada com objetivos ligados à Doutrina Espírita. Embora Kardec não tenha frisado em suas obras referência expressa à dança, podemos e iremos certamente tomar para esta tudo o que foi dito a respeito da arte e da inesgotável fonte de inspiração que lhe se tornará o mundo material e espiritual, sob a ótica Espírita.

Sem dúvida, o Espiritismo abre à arte um campo inteiramente novo, imenso e ainda inexplorado. Quando o artista houver de reproduzir com convicção o mundo espírita, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações e seu nome viverá nos séculos vindouros (...) (KARDEC, 1995, p.159)

As páginas na literatura espírita referentes à dança são esparsas mas valorosas, como os bailados graciosos que espargiam feixes de luzes multicores, descritos por Camilo Castelo Branco no conhecidíssimo "Memórias de um suicida" de Yvonne do Amaral Pereira ( pp. 552 – 554 ) e a dança emocionante de Isadora Duncan (espírito), relatada de maneira empolgante pelo jornalista e dramaturgo Silveira Sampaio, em Pare de Sofrer ( pp. 94 – 97 ). [3] Pinceladas de atuações da dança no plano espiritual, que nos revelam a utilização desta linguagem como instrumento para manipulação de energias e seu emprego com finalidade terapêutica.

A sala escureceu e o silêncio se fez. A pesada cortina desapareceu e em meio à escuridão do palco surgiu uma névoa prateada que foi crescendo e aos poucos tomando uma forma de mulher. (...) Formas coloridas de pessoas com seus instrumentos dançavam no ar (...)
(...) Ela começou a dançar e dela emanavam luzes coloridas (...), expressando sentimentos de luz e beleza tão elevados que energias coloridas e luminosas nos atingiam e emocionavam sensibilizando-nos a alma.
(...) Quando terminou e ela curvando-se acenou adeus, da platéia silenciosa e extasiada saiu uma energia de um rosa brilhante misturada ao lilás suave, que a abraçou com carinho. (...) pude ver que nos olhos dela, brilhantes de emoção, duas lágrimas rolaram qual pérolas de gratidão e de amor. (SAMPAIO, 2002, pp. 96 – 97)

Quem já passou pela experiência da dança, sabe o quanto de energia se consegue perceber e emanar daquele que dança. Distante da razão da arte dramática e mais próxima da subjetividade da música, a dança materializa as energias e as faz movimentar, potencializando-as com as energias provenientes do próprio ser e dialogadas com as daqueles que o observam.

Ele (o perispírito) vibra aos menores impulsos do espírito e transmite ao corpo físico as vibrações forçosamente reduzidas. (...) A correlação entre os dois envoltórios: físico e perispiritual, diz respeito a uma lei única, a das vibrações. (DENIS, 1994, pp. 96 - 97)

O dançarino espírita, consciente desta lei, desenvolve seus movimentos como um maestro que rege a orquestra da natureza. Não são apenas sinestésicos, mas energéticos. Iniciam-se nos seus próprios centros de força, irradiam-se entre si, potencializando-se e ampliam-se, ocupando os espaços da apresentação em um diálogo vibracional entre palco e platéia. Ao dançar, o dançarino espírita pinta no ar com tintas de luzes coloridas e fluidos que mobilizam os sentimentos que escolheu e lapidou durante os ensaios. A música o auxilia na materialização destas forças que envolvem a si e à platéia. Daí o cuidado que se deve ter na escolha do repertório musical.
A música espírita não é, sem dúvida, a única opção mas certamente facilita a criação do coreógrafo e a execução dos dançarinos espíritas pois que, de igual objetivo, já traz em si a temática e a vibração adequadas à visão espírita. Outra razão para a preferência pela música espírita é a sua quantidade e qualidade cada vez maior, além de estarmos também colaborando para a sua divulgação. Como nos diz a equipe de dança do site Evangelizar "Se nós que somos artistas espíritas, se nós que somos bailarinos e coreógrafos espíritas, não falarmos de temas espíritas em nossas coreografias, quem falará por nós?"[4]
Multiplicam-se músicos, intérpretes e grupos[5] com CDs lançados ou não, com músicas mediúnicas ou não, que podem e devem ser utilizadas pelos grupos e solistas da dança espírita, somando assim para um verdadeiro trabalho de socialização da arte espírita, ainda tão pouco conhecida do nosso público. Outro aspecto que gostaríamos de abordar sobre a dança (também presente nas demais linguagens da arte espírita) é o trabalho atuante da espiritualidade, com os encarnados e desencarnados durante as apresentações.

Espetáculos, sinfonias, apresentações são utilizados assim como instrumentos cirúrgicos a repararem simultaneamente os corpos etéreos daqueles que ali se encontram, arrebatando do fundo de suas almas, o reconhecimento da filiação divina a que têm vínculo e herança. (BENTO, 2002)

Ao dançar[6], fazemos do nosso corpo o instrumento para as notas da espiritualidade. E porque não há espaço para racionalizar, nos fazemos instrumentos quase perfeitos, espécies de refletores de energias que nos envolvem e envolvem a todos no ambiente. Todas as atividades desenvolvidas pelos agrupamentos espíritas são utilizadas pela espiritualidade para desenvolver ações educativas, reconfortadoras e/ou terapêuticas. A música, já utilizada em algumas de nossas casas para ambientação nos momentos de prece, meditação, de preparação para o passe ou para os trabalhos mediúnicos é um dos muitos exemplos que podemos citar da utilização das energias potencializadas pela atividade artística, empregadas pelos benfeitores espirituais. Algumas casas já utilizam oficinas de artes simultaneamente às atividades mediúnicas, por orientação da própria espiritualidade, como forma de terapêutica espiritual. Além da utilização da arte junto às atividades da infância e juventude, pela maioria de nossas instituições.
Quando o homem houver desligado-se das imagens e sensações terrenas, através do intercâmbio e das visões do mundo espiritual, das esferas onde a alegria, a harmonia e a paz reinam, refletirá em seu corpo espiritual e este imprimirá no soma as energias divinas e harmônicas do Universo. A dança será então, como já o é em esferas sutilizadas, um cântico de louvação fisicalizado em luzes e formas, emitindo irradiações salutares e terapêuticas, unindo almas em sintonia com os benfeitores e elevando o ser ainda mais, a planos de sutilíssimas harmonias. (ARIEL, 2003)

A dança espírita, como qualquer outra atividade em nossas instituições, exige comprometimento e dedicação, companheirismo e estudo, harmonia e auto-educação. Não está limitada àqueles que possuem conhecimentos técnicos e corpos amadurecidos pela técnica, mas sem dúvida, é de grande importância ter pelo menos a orientação de alguém que conheça alguma das técnicas de dança, os elementos básicos desta linguagem e noções de composição coreográfica para que se dê a qualidade mínima para um trabalho que se pretende, seja respeitado e apoiado pelos companheiros espíritas.
A continuidade, já nos dizia Kardec (2007, p. 25), é característica de um estudo sério. Assim também deve ser com o trabalho da arte dentro das lides espíritas. Deve se ter claros os objetivos, ter um programa de pelo menos médio prazo, com regularidade de encontros, exercícios de preparação corporal que possam dar sintonia e sincronismo entre os elementos do grupo, proporcionar instantes de estudo da linguagem sempre buscando as conexões com as bases doutrinárias, avaliações freqüentes do trabalho do grupo mas também do crescimento e amadurecimento dos seus componentes na linguagem e na Doutrina.
Dançar, se dança em qualquer lugar, para fazer aulas de dança e se apresentar, há uma centena de academias e escolas em qualquer cidade deste país, não é necessário estar em um centro espírita. Mas se a minha escolha consciente é reunir o prazer de dançar com o conhecimento que a Doutrina Espírita despertou em mim, e fazer desta união a minha atividade na seara do Cristo, aí sim, eu vou participar de um grupo de dança espírita.

Ah... minha bailarina
Seu desafio é crescer
Antes do que você pensa
A luz mais intensa virá de você[7] (César Tucci)

Deixamos aqui o convite para que possamos estimular o fazer e o pensar a dança espírita em nossas instituições, eventos e atividades, no intuito de incentivar grupos e companheiros no envolvimento com a dança, revestida das sutilezas da nossa Doutrina, aproveitando toda a sua potencialidade no desenvolvimento do homem novo que tanto aguardamos. É necessário que aqueles que ainda timidamente atuam nesta área possam trocar experiências, somando e multiplicando para que possamos ver com maior freqüência a dança espírita no nosso meio e além. E se perguntarem por onde começar, a resposta será simples: pelo começo. Reunir aqueles cujo interesse pela dança espírita seja ponto em comum, é um excelente iniciar.
O que dançar, como dançar, quando dançar, onde dançar, com quem dançar e todas as demais questões que por ventura possam estar acolhidas nos corações espalhados pelo Brasil, são questões que se auto-responderão quando a ação do QUERER DANÇAR for o móvel dos nossos encontros. Abrir espaços dentro e fora de nós, é de hora, o mais que suficiente. Utilizar todos os veículos, a internet, as listas, grupos, orkut, msn, produzir e divulgar vídeos, artigos, diários com as experiências já realizadas e as inquietações presentes, promover e estimular a promoção de mostras, encontros e festivais que possibilitem a troca e a qualificação dos que fazem ou querem fazer dança espírita, são caminhos que necessitam ser multiplicados em nossas cidades, estados e em todo o país. Precisamos buscar palcos que abriguem nossos ideais e fazer da dança espírita mais uma bandeira para a construção da nova era.
Quem me dá a honra desta contra-dança?!

Denize de Lucena
(Salvador, Ba)
denizedelucena@terra.com.br



Bibliografia:

§ Andrade, Dyone. Quem dança é mais feliz. - A História da Dança. Disponível em: http://br.geocities.com/quemdancaemaisfeliz/interna1.html Acesso: 16/06/2008
§ ARIEL. (espírito) Dança, vibração da alma. Mensagem psicografada. Arquivo da Comunidade Arte e Paz. Salvador, 2003.
§ BENTO. (espírito) Caridade, Arte e Beleza. Mensagem psicografada. Arquivo da Comunidade Arte e Paz. Salvador, 2002.
§ DENIS, Leon. O espiritismo na arte. 2a. ed.Niterói, RJ: Lachâtre, 1994.
§ KARDEC, Allan - tradução Guillon Ribeiro. Obras Póstumas. 27a. ed. Brasília: Editora FEB, 1995.
§ KARDEC, Allan - tradução Salvador Gentile. O Livro dos Espíritos. 169a. ed. Araras, SP: IDE, 2007.
§ Moura, Prof. Dr. Manoel Oriosvaldo de (Org.) - Faculdade de Educação – USP. Metodologia do Ensino de Matemática - História da Dança. Disponível em:
http://www.passosecompassos.com.br/matedanca/historiadanca.htm
Acesso: 16/06/2008
§ SAMPAIO, Silveira (espírito).GASPARETTO, Zibia (médium). Pare de sofrer. 12a. ed. São Paulo: Vida e Consciência, 2002.

[1] Licenciada em Artes Cênicas pela UFBa - BA, Pós-Graduada em Supervisão Escolar pela Cândido Mendes –RJ, espírita desde 1995, integrante da Comunidade Arte e Paz – Ba.

[2] Histórias compostas para ballet. Ex.: O quebra-nozes, A bela adormecida e O lago dos cisnes, de Tchaikovsky; Coppélia, de Léo Delibes; Gisele, de Adolphe Adam; Romeu e Julieta, de Prokofiev; dentre outros.
[3] Ver bibliografia.
[4] http://www.evangelizar.org.br
[5] podemos sugerir ainda o site http://www.musicexpress.com.br/Genero.asp?genero=33 e http://www.cvdee.org.br/ev_musica.asp onde podem ser encontradas várias músicas espíritas.
[6] É claro que me refiro aqui a uma dança específica, a uma dança que busca a beleza e a elevação.
[7] Trecho da música "bailarina" de César Tucci. ( tucci@francanet.com.br )

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A DANÇA NA CASA ESPÍRITA: BUSCANDO CAMINHOS POSSÍVEIS

Daniela Luciana Pereira Soares
almanova@ig.com.br

“O lugar da dança é nas casas, nas ruas, na vida.”
Maurice Béjart

1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS


Há um tempo atrás, falar em dança na casa espírita, com certeza provocaria certa estranheza. Hoje em dia, sua presença está se tornando gradativamente mais comum e, penso particularmente, que num futuro não muito distante, nossos textos fazendo referência ao preconceito e as dificuldades iniciais na sua difusão dentro da casa espírita é que causarão certo espanto nos confrades espíritas.
Atualmente, a dança aparece nos cenários espíritas junto a performances teatrais ou musicais ou em grupos constituídos especificamente para trabalharem com essa linguagem artística – os chamados grupos espíritas de dança[1].
Dentre os grupos que conhecemos, muitos já contam com um pouco mais de uma década, mas a grande maioria vem de iniciativas recentes. Dessa forma, a base teórica e filosófica que sustenta o trabalho dos grupos ainda está sendo construída e refletida pelos mesmos. Embora saibamos que independente de termos consciência ou não, o nosso trabalho sempre reflete uma ideologia, uma maneira de pensar e a dança espírita não fuja disso, acreditamos que suas bases ainda estão criando raízes, através da troca de experiência entre os grupos e das reflexões buscadas nos grupos de discussão, bem como nos encontros voltados ao estudo da arte espírita e nas mostras espíritas de dança.
A finalidade do presente artigo é refletir sobre os objetivos da dança na casa espírita e os diferentes papéis possíveis de serem exercidos por ela no seio da comunidade espírita. Faremos isso, através de um estudo de caso, tendo por companhia autores da Doutrina Espírita. Usaremos como material de análise, as experiências vivenciadas no Grupo Espírita de Dança Evolução[2] no período de 1995 a 2004, período em que tivemos na coordenação do grupo.
Não temos a pretensão de lançar definições, apenas levantar pontos a serem refletidos, baseados na nossa experiência particular. Acreditamos que a reflexão sobre a prática vivenciada nos grupos, alicerçada no estudo da doutrina espírita deve ser uma constante, para que o trabalho não se perca na práxis e se traduza num pensar, agir e sentir coerentes.

1.1 ENCONTRANDO UMA DIREÇÃO

O Grupo Espírita de Dança Evolução foi criado em Dezembro de 1995 no Instituto de Difusão Espírita, quando um grupo de jovens da mocidade, atendendo a um pedido do coordenador da Evangelização Espírita Infantil se uniu para criar uma coreografia sobre o tema Evolução. Até então, nenhum dos jovens havia tido contado com a dança nem dentro nem fora da casa espírita, somente uma jovem tinha formação em dança e posteriormente passou a coordenar o grupo. Com a apresentação dessa primeira coreografia, o grupo se constituiu como grupo espírita de dança e nunca mais parou. É aí que começa uma história, pano de fundo para nossa análise, construída desde a base por cada um de seus integrantes.
No início do grupo, a idéia que tínhamos sobre os objetivos da dança na casa espírita, pairava sobre a divulgação do espiritismo. Com o tempo, passamos a participar de encontros de arte espírita, voltados ao estudo e a reflexão e fomos construindo uma nova visão de arte. Somado a isso, o Departamento de Evangelização do Instituto de Difusão Espírita, oferecia anualmente um Curso de Formação de Evangelizadores[3], no qual o papel da arte era muito valorizado, e se fundamentava na melhoria interior e na interação com a espiritualidade maior. Isso contribuiu para que constantemente nos questionássemos sobre a finalidade da dança na casa espírita e fôssemos buscar respostas.

“... A arte não é apenas uma forma de expressão, mas acima de tudo, uma forma de crescimento interior, de desenvolvimento das potências da alma. Pode-se tornar um ótimo elemento de integração vertical, auxiliando o Espírito a vibrar em sintonia mais elevada, afinando seus sentimentos estéticos e sintonizando com as esferas elevadas da vida, com vibrações sutis, com o amor que se amplia e se expande ao infinito.” (Alves, 2000, p.192)

Essas experiências foram fundamentais, para que posteriormente viéssemos a definir com clareza os objetivos do nosso grupo. Mas o que é objetivo?
Procurando auxílio no dicionário, encontramos as seguintes definições:

Objetivo: Fim. Objeto que se quer atingir.
Objeto: Coisa. Motivo. Finalidade.
Finalidade: fim a que se destina uma coisa; objetivo; alvo.

O objetivo é a bússola norteadora de qualquer trabalho, como vimos acima, o alvo que se quer atingir. Se não sabemos claramente aonde queremos chegar, não chegaremos a lugar algum ou andaremos qual barco sem rumo ora se dirigindo a uma direção, ora a outra, seguindo a livre vontade do vento.
Como disse anteriormente, a partir de várias vivências que nos fizeram refletir sobre os objetivos da dança na casa espírita e estudando obras da codificação referente à arte, elegemos como objetivo primeiro do grupo a reforma íntima.

“O objetivo essencial da arte, já dissemos, é a busca e a realização da beleza; é ao mesmo tempo, a busca de Deus, uma vez que Deus é a fonte primeira e a realização perfeita da beleza física e moral. Quanto mais a inteligência se purifica, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da idéia do belo. O objetivo essencial da evolução será, portanto, a busca e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e em suas obras. Tal é a regra da alma em sua ascensão infinita.” (Denis, 1994, p.9)

A interpretação pessoal que fazemos do trecho acima do livro “O Espiritismo na Arte” de Léon Denis, é que o objetivo essencial da arte repousa na melhoria íntima. Quando ele afirma que “o objetivo essencial da evolução será, portanto, a busca e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e em suas obras”, entendemos que a realização da beleza no ser, não pode estar senão voltada para a melhoria interior, para a reforma íntima, visto que o corpo físico é perecível e só o espírito é eterno. Da mesma forma quando se refere à realização da beleza “em suas obras”. Nossas obras são o reflexo do que somos, e só refletirão a beleza à medida que esta cumprir-se em nós.

“Isto porque, para conceber, para produzir obras geniais, capazes de elevar as inteligências até o máximo do pensamento, até o ideal de beleza perfeita, é necessário primeiramente criar-se a si mesmo, edificar sua própria personalidade e torna-la suscetível de provar, de compreender os esplendores da vida superior e a harmonia eterna do mundo. Que forças, que luzes, que consolações, que esperanças podemos passar às outras almas se não temos em nós próprios senão obscuridade, dúvida, incerteza e fraqueza? (Denis, 1994, p. 87)

O trabalho do Grupo Espírita de Dança Evolução se desdobrava em vários grupos divididos por faixa etária, para facilitar o trabalho com a técnica de dança e os interesses e necessidades de cada idade. Nesta época, o grupo já contava com vários integrantes-professores, que ministravam aulas de dança nestes grupos. A existência de um objetivo comum, claro para todos os integrantes, possibilitava um trabalho em uníssono, sem notas dissonantes aqui ou acolá. Também servia de alerta constante, para que buscássemos em nossas coreografias o reflexo desse ideal, nos afastando do culto a vaidade e ao orgulho ainda tão presentes em nós.
Acreditamos que a “reforma íntima” resume em si muitos dos objetivos que possamos traçar para a arte na casa espírita. À medida que nos esforçamos em nossa melhoria interior, vamos gradualmente sintonizando com vibrações de teor mais elevado, despertando o potencial divino, latente em nós. Segundo ALVES (2000), o sentimento corresponde a estado vibratório que se amplia e se desenvolve. À medida em que se emite vibrações, sintoniza com vibrações de teor semelhante, e mais se desenvolve. Além disso, afirma que:

“Existem estados vibratórios ou sentimentos que o intelecto apenas, por si só, não atinge. Energias espirituais superiores vibram em nível superior e para senti-las é preciso entrar em sintonia. Apenas com a razão, com o intelecto, não conseguiremos elevar nosso padrão vibratório para sentir tais vibrações sutis. A arte, contudo, nos permite atingir esses estados superiores, elevando nossa vibração.” (Alves, 2000, p.193).

Tendo a reforma íntima por fim do grupo espírita de dança, o objetivo da apresentação coreográfica passa a ser o “doar-se”. A apresentação ganha um novo sentido, que vai além da demonstração técnica, da divulgação da doutrina, mas atinge o campo da vibração, a ação sem palavras, o diálogo de alma para alma.
Isso que nos moveu a realizar uma apresentação na Clínica Psiquiátrica Antônio Luiz Sayão, em Araras/SP. Todos estávamos cientes, de que os espíritos encarnados que ali se encontravam em corpos mutilados, desequilibrados mentalmente, não receberiam nossa mensagem pelos sentidos comuns, mas pela energia, pela vibração, pelo contato espírito a espírito que a arte ali estabeleceria.
A transmissão do conteúdo espírita-cristão também é elemento importante, mas não um fim em si mesmo. A maior propaganda que podemos fazer da Doutrina Espírita é nossa própria modificação. De que adianta nos aplicarmos fervorosamente na difusão do espiritismo através da arte, se não nos aplicarmos a vivenciá-lo em nós mesmos. É claro que a Doutrina Espírita estará presente como temática central nas coreografias dos grupos espíritas de dança, mas como já afirmamos em textos anteriores, sua força pousará na transformação moral já alcançada. Fácil é ludibriarmos sobre nossa verdadeira moradia espiritual através das aparências da carne, mas difícil é escondermos a vibração que emanamos, campo em que as máscaras caem e as transparências revelam.


2.2. CAMINHOS E POSSIBILIDADES

“Nenhum caminho é igual a outro não há rima perfeita nem em versos alexandrinos,mas todos os sonhos são voláteis às seis da manhã.”
Simão de Miranda

A dança na casa espírita se desdobra em inúmeras possibilidades, como as demais linguagens artísticas – música, teatro, literatura, artes plásticas. Da criança ao idoso ela propicia uma gama de vivências significativas, seja no aspecto educativo, terapêutico, social e espiritual, sem contar os benefícios físicos e psíquicos proporcionados por ela.
Segundo NANNI (1995), na Grécia a dança constituía parte fundamental da educação; realizada de várias formas, era empregada a partir de cinco anos até o limiar da velhice.
Entre as civilizações primitivas, vemo-la ligada aos rituais, ao êxtase, como elemento de ligação com o divino. Em diferentes períodos da humanidade podemos ver essa relação que ela estabelece com a religiosidade, ora intensificando-a, ora se desligando quase por completo, refletindo o pensar, o sentir, o querer de um povo, de uma época.
Iluminada pelo conhecimento espírita, mostra-se como elemento de ligação com Deus, de sensibilização, de estímulo à capacidade criativa, de elevação de padrões vibratórios, dentre tantos outros.
A dança, a arte de forma geral, é sem dúvida elemento valioso dentro da casa espírita, que se bem utilizado, canalizará energias para o bem e belo, propiciando elevação e renovação.

“Não há dúvida de que a arte produz fortes estímulos a fortalecer e impulsionar nossas energias para o bem e para o belo, despertando nossas energias superiores, trabalhando nossa vontade, nosso querer para o melhor, para o belo, para o nobre, para o superior. Ao mesmo tempo a arte permite oferecer oportunidade de experiências variadas atendendo às tendências e aptidões individuais. A música, a dança, o teatro, as artes plásticas, a literatura, formam ambiente de nível superior a tonificar o Espírito, alimentando suas tendências para o melhor e estimulando as regiões superiores da alma, o germe da perfeição, a essência divina que se desenvolve gradativamente em todos nós.” (Alves, p.47)

No campo da evangelização espírita infantil direcionará a vontade a ideais superiores, será veículo de educação do sentimento, despertará o potencial criativo. A dança vem de encontro com a necessidade de movimento e expressão da criança, educativa por excelência, poderá estar presente como estratégia metodológica para se aprender um conteúdo, de forma ativa e construtiva ou como oficina em um horário a parte da evangelização, propiciando vivências estéticas que se refletirão em toda a vida da criança.

“Deixai que as crianças bebam nas fontes mais puras da Arte terrestre... Que elas possam exercitar a sua sensibilidade, ouvindo as melodias mais doces jamais feitas; olhando as cores e as luzes mais sutis já tecidas; declamando os poemas mais elevados jamais compostos; sentindo as produções mais próximas da divindade que o homem já atingiu. Fazei isso com todas elas e se não tiverdes no futuro todos os homens literalmente artistas, tê-lo-eis moralmente melhores e mais criativos.” (Schiller, mensagem psicografada, médium Dora Incontri, in: A Educação Segundo o Espiritismo, p. 215)

Dentro da experiência vivenciada no Grupo Espírita de Dança Evolução, a oficina de dança era realizada em um horário a parte do horário da evangelização, embora também estivesse presente nas aulas e em comemorações realizadas pelos evangelizadores, e reunia crianças que tinham interesse pela dança[4]. O trabalho da oficina de dança, que ocorria semanalmente e em horários pré-estabelecidos, consistia no aprendizado de técnicas específicas de dança e vivências de improvisação e criação livre, que também abrangiam temas que as crianças estavam estudando na evangelização. O ápice do processo ocorria na criação e apresentação de coreografias a partir dos temas estudados, o que também servia de estímulo ao trabalho do grupo, que se submetia a treinos e ensaios que exigiam muita disciplina, persistência e força de vontade.
Além do campo da evangelização infantil e da mocidade espírita, a dança oferece ao adulto e ao idoso as mesmas oportunidades de expressão e crescimento, alcançando também, níveis terapêuticos. María Fux, bailarina argentina e criadora da dançaterapia[5] nos diz que a necessidade do adulto expressar-se através de seu corpo é uma necessidade imperiosa, pois com o passar dos anos, o adulto, especialmente, restringe seus limites corporais e psicológicos. Afirma ainda, que somente arrancando e desenvolvendo as possibilidades internas e físicas que temos, é que podemos equilibrar-nos.
“Creio que a dança e o movimento, encarado no criativo que todos temos, ajudam a uma profilaxia terapêutica que deveríamos realizar diariamente.”
“O movimento e a possibilidade de estimulá-lo com a música, a palavra ou o silêncio, revela no espaço a psicologia profunda do indivíduo. Isto se obtém melhorando as possibilidades existentes, desenvolvendo outras e, fundamentalmente, fazendo sentir ao grupo a possibilidade criadora que há dentro de cada um de seus integrantes: deste modo é possível desenvolver não só a parte física, mas também a psíquica, estimulando-os a um reencontro que produz descarga e alegria.” (Fux, 1983, p.115)


Grupo Espírita de Dança Evolução Adulto apresentando-se durante a III Mostra Espírita de Dança


A primeira experiência com adultos e idosos no Grupo Espírita de Dança Evolução, surgiu da necessidade de envolvermos mais a casa espírita e os pais dos integrantes do grupo na vivência artística, no nosso caso, a dança.
O trabalho do grupo era intenso, ensaios em finais de semana e feriados, muitas apresentações e viagens, enfim, uma proposta que exigia muita dedicação e envolvimento, nem sempre compreendida por aqueles que olhavam de fora. Embora o apoio que recebíamos da casa espírita que nos acolhia, sentíamos a necessidade da arte ser vista com a mesma dimensão das outras atividades da casa. Então, partindo da premissa que se a dança nos trazia tantos benefícios físicos como espirituais, também o faria aos demais companheiros da casa, não importando a idade cronológica, iniciamos o grupo adulto.
As aulas eram realizadas semanalmente e em horário pré-estabelecido e, como citamos nos grupos anteriores, compreendiam também vivências de diferentes técnicas de dança e improvisação. O pequeno grupo, formado inicialmente, chamou a atenção de outros trabalhadores da casa, e mais companheiros vieram espontaneamente se juntar à nova experiência. Ao propormos uma apresentação, como resultado do trabalho e das vivências do grupo, num primeiro momento, mostraram-se resistentes, mas a resistência inicial foi cedendo lugar à alegria, ao entusiasmo e a um envolvimento cada vez maior.
Para exemplo e admiração de todos, uma das senhoras mais idosas da casa, foi uma das primeiras a integrar o grupo, ensinando-nos a todos, que os limites estão mais na mente que no corpo, e que a dança, vivenciada em sua totalidade, não impõe limites, senão aqueles que nós próprios nos impomos.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossas limitações ainda não nos permitem divisar toda a dimensão da dança na vida humana e além dela. Aqui, apresentamos um pouco da nossa experiência e das nossas reflexões particulares no campo da dança na casa espírita.
Os caminhos são muitos. Cada experiência é única e muito particular.
Não existe caminho certo, nem receitas a serem seguidas. A experiência se constrói dentro do contexto em que está inserida e das relações que estabelece com cada indivíduo envolvido, em determinada época e lugar. Com toda a certeza, as experiências vivenciadas no Grupo Espírita de Dança Evolução, no período de 1995 a 2004 serão diferentes das atuais e estas, diferentes das porvindouras. Cada experiência é singular, sem parâmetros para comparações, mas significativa e transformadora, para cada um, dentro do seu universo particular.
Desejamos, que o nosso relato contribua de alguma forma, com o trabalho dos diferentes grupos, não como modelo a ser seguido, mas como pequenina semente, que levada pelo vento, dê origem a novas vivências de transformação e alegria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


ALVES, Walter Oliveira. Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita: Teoria e Prática. 1ª edição. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2000.

ALVES, Walter Oliveira. Prática Pedagógica na Evangelização: Conteúdo e Metodologia. 1ª edição. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1998.

DENNIS, Leon. O Espiritismo na arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1994.

FUX, María. Dança, experiência de vida. 3ª ed. São Paulo: Summus, 1983.

INCONTRI, Dora. A Educação segundo o Espiritismo. 1ª ed. São Paulo: FEESP, 1997.

NANNI, Dionísia. Dança Educação: Pré-escola à Universidade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

ROCHA, Ruth. Minidicionário. São Paulo: Scipione, 1995.

O que é dançaterapia. Disponível em:
http://www.dancaterapia.com.br/

[1] Entendemos aqui, por grupo espírita de dança, um conjunto de pessoas, seja jovens, adultos ou crianças que se reúnem regularmente para aprimorarem técnicas de dança, estudarem e montarem coreografias à luz do espiritismo, bem como realizarem apresentações.

[2] Grupo criado em Dezembro de 1995 no Instituto de Difusão Espírita em Araras/São Paulo, que desenvolveu um trabalho de dança à luz do Espiritismo envolvendo crianças, jovens, adultos, idosos e portadores de necessidades educativas especiais. O trabalho do grupo culminou com a criação da I Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito” em Outubro de 2001. O grupo atua até hoje.
[3] O Curso de Evangelizadores é oferecido anualmente no Instituto de Difusão Espírita – Araras/SP no período do carnaval e conta com oficinas artísticas de dança, música, teatro, artes plásticas e literatura.
[4] O Departamento de Evangelização do Instituto de Difusão Espírita oferecia várias oficinas artísticas (dança, música, teatro, artes plásticas e literatura) em horários a parte da evangelização. As crianças tinham liberdade de optar pela oficina que mais lhe despertasse o interesse. Muitas crianças faziam mais de uma oficina.
[5] Dançaterapia é uma abordagem corporal, voltada ao conhecimento pessoal que estimula o movimento criativo e a espontaneidade do corpo, motivando a comunicação e a integração entre as pessoas, procurando oferecer-lhes confiança para transformar o eu não posso por uma nova atitude do corpo que diz: Sim, eu Sou Capaz. Fundamentada na metodologia criada pela bailarina argentina María Fux e na transpessoalidade, a Dançaterapia busca utilizar os recursos artísticos, educacionais e terapêuticos da dança para encontrar as pessoas e auxiliá-las a descobrir caminhos, superar os desafios e viver mais felizes.