SAPATILHA ESPÍRITA



“... Sim, certamente o Espiritismo abre á arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado; e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.”
Allan Kardec

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Arte e Educação




Arte na (Casa Espírita) Educação do Espírito




por Denize de Lucena





junho,2010.


Quando se pensa em Arte na casa espírita, vem de imediato a idéia de divulgação. Esse ponto já é aceito pela grande maioria das casas. Especialmente a música e o teatro têm ocupado estes espaços.

Uma vez que o desenho, a escultura e a pintura entraram na casa espírita por via mediúnica, em geral aparecem neste formato e, por isso, com menor frequência.

Geralmente ligada à evangelização e, em alguns casos, a eventos confraternativos, a Arte aqui e ali aparece no ambiente espírita, sem que necessariamente faça parte de suas atividades permanentes. Com louváveis exceções de algumas casas que descobriram o grande potencial que a Arte carreia e sua atuação direta na educação do espírito.

-- A Arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação do “mais-além” que polariza as esperanças da alma.
O artista verdadeiro é sempre o ‘médium das belezas eternas’ e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.
Emmanuel, O Consolador, 14ª. edição, p.100, perg. 161, Ed. FEB


Fora do ambiente espírita, diversas áreas do conhecimento humano têm destacado o poder que a Arte tem em si mesma. Não como veículo, não como meio. No campo da Educação, conquistou-se instrumentos legais que asseguram a Arte como área do conhecimento humano e indispensável no conjunto de saberes acumulados pela humanidade, que devem ser ofertados às novas gerações.

Não mais se pretende desenvolver apenas uma vaga sensibilidade nos alunos por meio da Arte, mas também se aspira influir positivamente no desenvolvimento cultural dos estudantes pelo ensino/aprendizagem da Arte. Não podemos entender a Cultura de um país sem conhecer sua Arte. A Arte como uma linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por intermédio de nenhum outro tipo de linguagem, tais como a discursiva e a científica.
Ana Mae Barbosa, Inquietações e mudanças no ensino da Arte, 5ª. ed. , Cortez Editora, p.17


A Arte possui potencial em si; é o fazer a Arte pela Arte, pelo que ela pode oferecer.

Porque é capaz de chegar em níveis que nenhuma outra área chega, alcançando além do cognitivo, níveis psicossociais, psicoemocionais e, também ao nível do perispírito, acordando lembranças que não detemos no consciente, mas que nos emocionam profundamente porque encravadas no âmago do nosso ser. É o que nos faz emocionar porque quem está em cena está emocionado, e manda energias através da vibração que chega em nós despertando os sentimentos adormecidos de outras experiências.
(...) agora, reconhecia que toda Arte elevada é sublime na Terra, porque traduz visões gloriosas do homem na luz dos planos superiores.
André Luiz, Os Mensageiros, cap.16, p.91, Ed. FEB

Quando o grupo está no palco, uma energia é gerada por ele, pelas emoções, pelas cenas que ali são representadas. Essa energia rompe o espaço cênico e avança para a platéia e a envolve, captando também dela de retorno ao palco.

Todos os artistas sabemos disto.

Essa verdade se amplia quando temos a consciência de que palco e platéia são também habitados por espíritos desencarnados que participam desta troca.

O grande debate na questão da Arte e, no caso, da Dança Espírita, é a eterna questão do rótulo. Por que Dança Espírita se não há uma proposta nova, se não há uma técnica, um método ou uma série de movimentos novos?

Todo movimento artístico foi definido pela posteridade. Estamos em pleno florescer da era das Artes e mergulhados como estamos, difícil é divisar o que fazemos. Até porque, outra grande questão é tomar a parte pelo todo. Vivemos em um país de dimensões continentais, no entanto nos referimos a questões espíritas como se fossem uma única, falamos que a casa espírita é assim, que a evangelização é desta forma, que os médiuns agem de maneira tal e que a Arte Espírita possui tal e tal intenção.

O olhar um pouquinho mais apurado e com um grama de humildade nos faz perceber que como quase tudo neste país, o movimento espírita também é plural. O fato de conhecermos alguns grupos de artes não nos habilita a dizer que a Arte Espírita está neste ou naquele caminho.

Seu advento (o Espiritismo) transformará a Arte, depurando-a. Sua origem é divina, sua força o levará a toda parte onde haja homens para amar, para elevar-se e para compreender. Ele se tornará o ideal e o objetivo dos artistas. Pintores, escultores, compositores, poetas irão buscar nele suas inspirações e ele lhas fornecerá, porque é rico, é inesgotável.
Allan Kardec, Obras Póstumas, p,185, Ed. FEB

Então há ou não uma Arte Espírita?

Se vamos buscar elementos que nos credenciem a rótulos, vamos continuar numa discussão infrutífera.

Eu diria que há uma Arte Espírita porque há artistas que, sendo espíritas, agregam à sua Arte os conhecimentos, pensamentos e princípios da Doutrina que abraçam. Assim sendo, chamaríamos de Arte Espírita aquela que é pensada e realizada sobre as bases da Doutrina Espírita.

(...)pois que este atributo, o Belo, é tão necessário às almas em progresso quanto o Amor, visto tratar-se também de um dos atributo do Criador de Todas as Coisas, e que, sendo o Universo uma expressão da Beleza Divina, e sendo o homem destinado a se tornar imagem e semelhança de Deus, deverá igualmente comungar com o Belo, a fim de poder compreender o Universo e com ele vibrar em toda a sua arrebatadora, feérica e harmoniosa beleza.
Ivone Pereira, Devassando o invisível, 7ª. ed. PP.80-81, Ed. FEB




DANÇA ESPÍRITA – REMODELANDO OS ARQUIVOS DA ALMA


Muitas vezes porém nos atemos a falar sobre temas doutrinários em nossas coreografias e sinalizamos assim que fazemos uma Dança Espírita.

A Doutrina nos informa que somos espíritos, estamos encarnados em exercício de evolução, mantemos relação com o plano espiritual de onde nos originamos e para onde retornaremos em cada fechar de nossas existências a fim de contabilizar nosso progresso.

Em nossa estada, mantemos contato com espíritos que habitam os dois planos da vida, e estes nos influenciam, e são influenciados por nós.

Da mesma maneira que não somos médiuns apenas quando estamos na reunião mediúnica, não podemos lembrar dos fundamentos doutrinários apenas quando estamos nas reuniões do centro.

Assistimos uma noite à representação da ópera Oberon, (...)por detrás dos atores muitos espíritos, de humor jovial, se divertiam em arremedá-los, imitando-lhes os gestos de modo grotesco; outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e fazer esforços por lhes dar energia. (...) Foi visto, (o espírito Weber, autor da ópera)daí a nada, no palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, um como eflúvio se derramava sobre os intérpretes.
Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, p.204-205, Ed. FEB


Tomando as quatro principais linguagens artísticas podemos fazer uma espécie de subdivisão destas. O teatro por usar das palavras e as artes visuais, das formas, convidam-nos a um exercício que passa pela razão, nos provoca, embora emocione, num diálogo, um embate de idéias. Não à toa foram os principais representantes da arte grega, civilização berço da filosofia.

A música e a dança, modelam seus discursos em níveis mais profundos, usam do simbólico, do abstrato, da impressão, e por isso atravessam a fronteira da razão e mergulham nas misteriosas camadas do ser.

O trabalho com a dança, que se processa diretamente no corpo físico, reflete e sente refletir os arcanos do perispírito, que nos faz acordar sensações e experiências anteriores. Ao trabalharmos com a dança espírita não devemos nos furtar do amparo espiritual por meio da prece, do estudo e do bom senso.
Ele (o perispírito) vibra aos menores impulsos do espírito e transmite ao corpo físico as vibrações forçosamente reduzidas. (...) A correlação entre os dois envoltórios: físico e perispiritual, diz respeito a uma lei única, a das vibrações.
Leon Denis. O Espiritismo na Arte. 2ª. Ed. Lachâtre, pp. 96 - 97

Já mais de uma vez iniciei longas defesas ao uso da música espírita em nossas coreografias. Insisto que nada possuo de contrário ao cancioneiro popular e mesmo erudito que possuímos. Contudo, nossos conhecimentos devem ser mais profundos quando escolhemos uma música que não é espírita. Devemos investigar sua origem, seu autor, a situação na qual e para qual foi composta, a que se vincula.

As trilhas do cinema, por exemplo, costumam ser obras maravilhosas do ponto de vista musical. Geralmente orquestradas, com trimbragens variadas, compostas por quem entende do assunto. Há músicas mesmo dignas de aplausos. Sabemos, no entanto que basta ouvirmos alguém cantarolar uma melodia conhecida e logo reconhecemos a música, pescamos na memória a letra, onde a ouvimos, uma situação que passamos, etc. “Nossos pensamentos plasmam imagens, criam formas-pensamento que nos envolvem” já nos disse André Luiz. Nós, espíritas, entendemos muito bem este fenômeno.

O cérebro humano é apenas um instrumento do espírito, um elo entre o perispírito e o corpo físico. É aquele que guarda todas as informações vividas, todos as experiências e sensações. Nossa mente, como um mecanismo de busca vasculha pontos de contato e é extremamente imagética. Não guardamos palavras, mas seus símbolos, seu significado.
Quando ouvimos a trilha sonora de um filme que assistimos, imediatamente nossa mente entra em ação e nos apresenta as imagens do filme em questão. Ao escolhermos uma música de filme para dançar, precisamos então atentar para a conveniência de despertar estas imagens na platéia.

A mesma situação se dá quando escolhemos músicas populares para dançar. Se a música é conhecida, logo toda a platéia estará plasmando imagens no ambiente. A consciência deste fato nos leva ao cuidado redobrado na escolha do que dançar.

Formas coloridas de pessoas com seus instrumentos dançavam no ar, nesse palco fenomenal, executando a mais linda melodia que meus ouvidos já ouviram.
Quando ela, deslizando, aproximou-se da platéia curvando-se em saudação graciosa, as longas e lindas mãos estendidas, eu delirei. Aquilo não era real. A beleza era tanta que senti vontade de rezar.
Ela começou a dançar e dela emanavam luzes coloridas enquanto seu corpo tomava lindas e expressivas formas, desaparecendo e reaparecendo, expressando sentimentos de luz e beleza tão elevados que energias coloridas e luminosas nos atingiam e emocionavam sensibilizando-nos a alma.
E eu fiquei ali, mudo, enquanto durou aquele espetáculo inesquecível, esquecido de tudo, deixando as lágrimas correrem livremente pelo meu rosto, numa felicidade intraduzível.
Quando terminou e ela curvando-se acenou adeus, da platéia silenciosa e extasiada saiu uma energia de um rosa brilhante misturada ao lilás suave, que a abraçou com carinho. E eu, que estava na primeira fila, pude ver que dos olhos dela, brilhantes de emoção, duas lágrimas rolaram qual pérolas de gratidão e de amor.
Silveira Sampaio. Pare de Sofrer. Ed. Vida e Consciência. pp 96-97

Mesma regra serve para as músicas que levamos às nossas crianças e jovens.

O cancioneiro espírita é grandioso, vasto e diverso. Há uma infinidade de artistas de variados estilos, precisamos conhecer e prestigiar mais a música espírita. Além do que, por ser espírita, há grandes chances de já estar em sintonia com o que queremos transmitir com nossas coreografias. Há músicas espíritas para todos os momentos e todos os gostos. Certamente acharemos uma que se encaixe no que queremos. Uma breve busca na net, e mais uma vez, uma infinidade de arquivos com cifras, letras e mp3 para ser baixados, são facilmente encontrados.



O MOVIMENTO DE DANÇA ESPÍRITA NO BRASIL

O movimento de arte espírita tem crescido sobremaneira. Especialmente na última década. Na área da dança podemos destacar o importante papel do Instituto de Difusão Espírita de Araras que vem promovendo anualmente a Mostra Espírita de Dança, evento único nesta modalidade no país.

A Pintura, a Escultura, a Arquitetura, a Poesia foram, uma a uma, influenciadas pelas idéias pagãs e cristãs. Podeis dizer se, depois da Arte pagã e cristã, haverá, um dia, a Arte espírita?
-- Fazeis uma pergunta que se responde por si mesma: o verme é o verme; torna-se bicho-da-seda; depois, borboleta. Que há de mais aéreo, de mais gracioso que uma borboleta? Então! A Arte pagã é o verme; a Arte cristã, o casulo; a Arte espírita será a borboleta.
Allan Kardec – Revista Espírita, p.404, 1860, Ed. EDICEL

Neste ano, chegaremos à nona edição. O evento tem data prevista para 13, 14 e 15 de novembro de 2010.

Ano passado a Mostra abrigou ainda o I Curso para Coreógrafos Espíritas: Dançando com a alma – O trabalho do coreógrafo no grupo espírita, nos dias 10 11 e 12 de outubro de 2009, numa parceria do IDE com a ABRARTE.

A idéia de se fazer um curso para coreógrafos nasceu na Mostra de 2008.
Os artistas presentes sinalizaram a necessidade de se unir para fortalecer e ampliar o evento e de qualificar os grupos e artistas ligados à dança espírita. O representante da ABRARTE que estava presente e os participantes, elaboraram a Carta de Araras onde descrevem a necessidade de que aqueles que estão à frente ou desejam estar à frente dos grupos de Dança Espírita, conheçam um pouco mais sobre esta linguagem, e conheçam as proximidade, as intercessões entre esta e a Doutrina Espírita (pelo menos o que já se sabe a respeito)

Refletindo sobre a expressão da dança em nosso movimento, identificamos necessidades e caminhos a seguir, baseados nos ideais da Doutrina Espírita e capitaneados pelo desejo de expressar-se artisticamente na busca do aperfeiçoamento moral e da divulgação da Doutrina Espírita através da arte.
Reunidos em espírito de colaboração e franco debate, nós, artistas espíritas, registramos neste documento, o extrato de nossos debates, com sugestões e solicitações à Abrarte, na crença de que a reunião de idéias contribui na construção de um caminho de crescimento e aprimoramento do movimento artístico de dança.
Percebemos que as ações ligadas à dança de caráter espírita passam ainda pela necessidade de divulgação de seus princípios e de seus eventos além da qualificação de seus fazedores, necessidade inerente a todo o movimento artístico espírita.
Carta de Araras, 17 de agosto de 2008(trecho)

Desta ação, a Abrarte reuniu um grupo de seis artistas ligados à dança para formatar o curso e ministrá-lo na edição de 2009. Assim foi feito. O curso aconteceu nos três dias da Mostra, mobilizando artistas de diversas cidades do país e potencializando os conhecimentos sobre Dança e Doutrina Espírita.

Durante a Mostra, além do curso para coreógrafos e das apresentações dos grupos, há várias oficinas, painéis e atividades voltadas para a temática, reunindo um grupo de mais de uma centena de pessoas.

Reunindo dois conjuntos de apóstolos, os participantes do I Curso para Coreógrafos Espíritas foram convidados à uma maratona de estudos e práticas para um processo de metamorfose. Do casulo do salão, saíram vinte e quatro borboletas com a certeza de poder colaborar na semeadura do Mestre Jesus. Finalmente reunidos no auditório, mais de uma centena de bailarinos presentes, deu-se início às apresentações. As luzes fugiram da platéia para reacenderem-se na Terra, em um lindo globo azul, protegido, erguido e evoluindo nas mãos de seres angelicais que ao ocuparem os espaços do palco nos ensinaram que a FRATERNIDADE das cores é um passo a ser dado pela Humanidade para esse novo momento. Na dobra do tempo/espaço onde passado e presente perderam suas fronteiras, visitamos épocas já vividas e pudemos vislumbrar o que nos espera.
(...)
De repente, como uma torneira que se abrisse, a vibração da Arte do Movimento não cabia mais em nós, as lágrimas teimaram em cair como se se tivessem rompido os diques da alma, e identificamos que nossos sentimentos careciam chegar muito além dos limites de Araras.
Borboletas revoaram em Araras, artigo disponível em http://www.arteespirita.com.br

Atualmente, estamos na campanha pela irradiação. Os grupos presentes a última Mostra foram convidados a criar blogs, a postar seus vídeos no youtube e a participarem dos eventos de Arte Espírita, em especial os realizados pela Associação Brasileira de Artistas Espíritas que vem se firmando como representando da área, inclusive junto à FEB já tendo participado de reuniões do CFN e sendo membro da comissão que está preparando um documento de orientação aos espíritas sobre a Arte.

Por todo país novos grupos de formam e se solidificam. Podemos citar alguns deles que participaram das Mostras e que podem ser encontrados na net, nos blogs e/ou no youtube:

GRUPO LEMA – FORTALEZA/CE

GRUPO ESPÍRITA DE DANÇA EVOLUÇÃO – ARARAS/SP

GRUPO ESPÍRITA DE DANÇA GRAÇA E LUZ – SÃO PAULO/SP

GRUPO ESPÍRITA DE DANÇA REFORMA ÍNTIMA – VITÓRIA/ ES

GRUPO DE TEATRO E DANÇA COR DA ALMA – RIO CLARO/SP

GRUPO ESPÍRITA DE DANÇA ARTELUZ – PAULISTA/PE

GRUPO SÁPHYRA – RECIFE/PE

GRUPO ARTE E VIDA – FRANCA/SP

GRUPO FEH – SÃO PAULO/SP

CASAS ANDRÉ LUÍS – SÃO PAULO/SP

JECAL – SÃO PAULO/SP

GRUPO ASAS DA ALMA – NILÓPOLIS/RJ

GRUPO ESPÍRITA DE DANÇA ILUMINAR – RIBEIRÃO DAS NEVES/MG

GRUPO DANÇA ARTE – GOIÂNIA/GO

GRUPO CRISÁLIDA – RIO DE JANEIRO/RJ

A arte espírita tem buscado principalmente o diálogo e o intercâmbio entre os grupos e uma maior visibilidade junto às casas espíritas, estimulando também o nascimento de novos grupos.

Uma investigação despretensiosa num site de buscas na web com o verbete Dança Espírita e/ou Arte Espírita pode reforçar nossa fala.

O Portal de Artes da Abrarte tem sido, juntamente com os de outros grupos, um pólo de união de informações, produtos e notícias do movimento de Arte Espírita no país, materializando um ideal que se mantinha adormecido qual semente e que agora brota possibilitando a espiritualização da Arte.

Aprendizes da Criação, os artistas sintonizados com o Mestre Nazareno, arrancam do lodo e da podridão as ovelhas perdidas de Deus e as alavancam rumo a Este, pelo encantamento, pela vibração na alma, pelo arroubo do diapasão em seus corações.
Para este concerto, foram reunidos muitos instrumentistas e técnicos de diversas áreas, e artistas que outrora não souberam utilizar seu talento a serviço do planeta. Uns e outros se somaram para esta missão, alguns da crosta e outros do invisível, de lá e de cá para que o ciclo se feche e o elo se fortaleça. Boa parte dos que deveriam laborar na terra, entre os encarnados, já iniciaram suas atividades ou se preparam para fazê-lo. Poucos ainda aguardam no plano espiritual para reencarnar nos próximos anos. Em poucas décadas já se poderá reconhecê-los entre os que mourejam nas lides espíritas, e em outras áreas, para que não falte a ninguém o convite.
O Plano de Deus é muito amplo e superior à nossa compreensão mas, pela Sua imensa piedade, escolheu Jesus a beleza para ser o instrumento de transformação e evolução do planeta que não casualmente fez AZUL e que azul permanecerá, mas acrescido de raro brilho e encantamento.
CARIDADE ATRAVÉS DA ARTE E DA BELEZA.
Será assim a nossa renovação e todos somos responsáveis em tornar realidade a vontade de Deus. E poderia Deus ter vontade mais bela para nós?!


Bento (Espírito). Acervo da Comunidade Arte e Paz. Disponível em








PARA REFELETIR:

Dança: Vibração da Alma

A dança é a vibração da alma que a arte impulsiona sobremaneira.
O corpo é repositório de nossas experiências mantidas nos séculos de nossas existências.
Em cada uma delas, nos despojamos deixando ao solo o acúmulo e o desgaste de nossas energias somáticas. No entanto, levamos conosco em maior profundidade a cada vez, o resultado e o acúmulo das energias, sentimentos e emoções em nosso perispírito: Nosso corpo luminoso, energético e mais sutil. É ele a ligação do ser que somos com o ser que estamos.
A arte, sutilizada e espiritualizada, que eleva-se às esferas em busca da beleza e da divindade, emana e detém as energias através deste veículo: o corpo perispiritual.
A dança, presente nas demais artes e mãe destas todas, é importante veículo de manipulação fluídica e espiritual, deixada ao largo porque ao se definir no ser, em seus contornos e desenhos primários, reflete em maior amplitude o grau evolutivo deste mesmo ser.
A humanidade, embora haja evoluído muito em referência ao seu ponto de partida, muito distante ainda se encontra do seu ponto de chegada.
É-nos mais fácil responder ao que conhecemos. E mais perto ainda nos encontramos das tribos arcaicas que da angelitude.
Nosso corpo fluídico guarda em si os sons dos tambores que buscavam as chuvas, dos chocalhos que cantavam para os ventos e dos batedores que buscavam o deus da força, o deus da natureza.
Gravados neste veículo menos grosseiro, estão os cânticos ritualizados e unicórdios das sociedades primitivas e a eles respondemos como às lembranças carinhosas de nossa infância.
Quando o homem houver desligado-se das imagens e sensações terrenas, através do intercâmbio e das visões do mundo espiritual, das esferas onde a alegria, a harmonia e a paz reinam, refletirá em seu corpo espiritual e este imprimirá no soma as energias divinas e harmônicas do universo.
A dança será então, como já o é em esferas sutilizadas, um cântico de louvação fisicalizado em luzes e formas, emitindo irradiações salutares e terapêuticas, unindo almas em sintonia com os benfeitores e elevando o ser ainda mais a planos de sutilíssimas harmonias.
A arte que plasma no homem a harmonia divina, ainda não foi por ele descoberta em sua real utilidade.
Ainda há pouco iniciou-se a busca da espiritualização da arte. Esta é sim, reflexo do homem hodierno, que ainda busca, qual náufrago em desespero, o prumo e o centro de suas aspirações. Suas inquietações ainda o perturbam e desarranjam sem que lhes traga a felicidade.
Arte e homem caminham juntos por serem tão somente uma única e mesma coisa.
A arte é o elemento divino do homem, sua emoção, sua aspiração, seu ideal, deveria ser-lhe alavanca a Deus. E o será quando ele, o homem, melhorando-se, melhorá-la, elevando-se, elevá-la e divinizando-se, divinizá-la.

Ariel ( espírito). Acervo da Comunidade Arte e Paz.
Salvador - Bahia

quarta-feira, 3 de março de 2010

Técnica e Mensagem na Dança Espírita: a busca do equilíbrio perfeito



Daniela L. Pereira Soares
almanova@ig.com.br


CONSIDERAÇÕES INICIAIS

“A arte não pertence a país algum, veio do Céu.”
Miguel Ângelo

Antes de iniciar nossa reflexão, é importante conversar sobre alguns termos que serão usados ao longo do texto, evitando assim, alguns equívocos acerca do entendimento dos mesmos. O próprio termo “dança espírita”, para algumas pessoas não soa bem, preferem usar “dança com temática espírita”, outras ainda, preferem usar apenas “dança”. Diferentes pontos de vista, que se postos em questão, todos teriam sua parcela de razão. Aqui, será usado o termo “dança espírita”, pois em poucas palavras ele se aplica a uma parcela restrita de pessoas que fazem esse tipo de dança, em determinado local e com uma finalidade específica. Aqui nos referimos a grupos de pessoas que entendemos são espíritas, ou seja, acreditam, vivenciam as idéias e crenças espíritas e fazem um diálogo desses conhecimentos com a dança. Já quando se fala “dança com temática espírita”, não se torna claro que esteja se referindo a um grupo espírita, pois como existem grupos teatrais que encenam peças, novelas, filmes que abordam temas espíritas sem serem necessariamente espíritas, nada impede que um grupo de dança como o Grupo Corpo ou o Ballet Stagium dance uma coreografia voltada a temas espíritas sem necessariamente serem espíritas. Isso também leva a pensar, que quando se fala em “dança espírita” não está se referindo apenas à temática do ballet ou coreografia, mas aos objetivos e as finalidades que orientam o grupo de pessoas que o fazem.
Outro ponto a salientar é em relação ao pensamento de que um dia haverá uma “arte espírita”, como um dia houve a arte pagã e a arte cristã e dentro disto podemos inserir a dança. Neste contexto citamos alguns trechos do livro Arte e Espiritismo organizado por Renato Zanola, onde ele faz transcrições da Revista Espírita (1860), no qual baseamos nossa fala anterior:

“A Pintura, a Escultura, a Arquitetura e a Poesia inspiraram-se sucessivamente nas idéias pagãs e nas cristãs. Podeis dizer se, depois da Arte cristã, haverá um dia, uma Arte espírita? O Espírito respondeu: - Fazei uma pergunta respondida por si mesma. O verme é verme; torna-se bicho da seda; depois, borboleta. Que há de mais aéreo, de mais gracioso do que uma borboleta? Então! A Arte pagã é o verme; a Arte cristã é casulo; a Arte espírita será a borboleta”. (Zanola, 1997, p.17)

“ Quando dizemos que a Arte espírita será um dia uma Arte nova, queremos dizer que as idéias e as crenças espíritas darão às produções do gênio um cunho particular, como ocorreu com as idéias e crenças cristãs e não que os assuntos cristãos caiam em descrédito; longe disto; mas , quando um campo está respigado, o ceifador vai colher alhures, e colherá abundantemente no campo do Espiritismo. E já o fez, sem dúvida, mas não de maneira tão especial quanto o fará mais tarde, quando for encorajado e excitado pelo assentimento geral. Quando estas idéias estiverem popularizadas, o que não pode tardar, pois os cegos da geração atual diariamente desaparecem da cena, por força das coisas, a geração nova terá menos preconceitos... Tempo virá em que elas farão surgir obras magistrais, e a Arte espírita terá os seus Rafael e seus Miguel Ângelo, como a Arte pagã teve os seus Apeles e os seus Fídias.” ( Zanola, 1997, p.25)


Acredita-se que esse movimento de renovação nas artes já está começando e não é propriedade exclusiva dos espíritas. Colocando o foco estritamente na dança, nota-se ela despontando em diferentes linhas religiosas, e independente da crença, do pensamento que os diferentes cultos lhe imprimem e se refletem na forma de fazer e pensar a dança, já se pode ver alguns pontos comuns entre elas, um deles chama a atenção – a reforma íntima.
Dança é dança, independente de ser feita numa academia, numa praça ou num centro espírita e, não é propriedade de nenhum grupo étnico, ou religioso, senão da própria humanidade. Apesar dos rótulos que se possa querer utilizar, nenhum deles modifica o que seja dança, independente do estilo, do modo de se fazer ou se teorizar dança, no entanto, às vezes eles se fazem necessários para que se possa delimitar um grupo com a finalidade de analisar suas práticas.

TÉCNICA NA DANÇA ESPÍRITA

“Eu não danço, eu sou a dança.”
Klauss Vianna

Dentro da história da dança a partir do pensamento de BOURCIER (2001), é na Itália, no Quatrocentos, que pela primeira vez se pensou na necessidade da técnica em dança. A dança que era uma expressão corporal realizada relativamente livre até então, passa a tomar consciência das possiblidades de expressão estética do corpo humano e da utilidade das regras para explorá-lo.
Mas o que é técnica afinal? Segundo o dicionário virtual Wikipédia:

“Técnica é o procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm como objetivo obter um determinado resultado, seja no campo da Ciência, da Tecnologia, das Artes ou em outra atividade. A palavra se origina do grego techné cuja tradução é arte.”

Trazendo isso para o universo da dança, conforme DANTAS (1999), a técnica é uma maneira de realizar os movimentos, organizando-os segundo as intenções formativas de quem dança. Ela está presente tanto nos processos de criação coreográfica quanto nos processos de aprendizagem, passando a ser um modo de informar o corpo e, ao mesmo tempo, de facilitar o manifestar da dança no corpo, ou seja, tornar o corpo que dança ainda mais dançante. A técnica torna o bailarino apto a manifestar-se em determinado código.
Mas será que a técnica é realmente necessária em um grupo espírita de dança? A técnica não seria dispensável, já que os objetivos dos grupos não repousam na formação de bailarinos profissionais, nem na realização de exibições virtuosas?
Pensando a técnica como um fim em si mesma, como um treino mecânico que nos leva a girar, a saltar somente, seria fácil chegar a conclusão que ela não é tão necessária, no entanto, pensando a dança como uma linguagem e a técnica como uma forma de manifestação dessa linguagem, talvez seria algo a ser pensado.
Da mesma forma que o músico espírita faz uso das notas musicais, dos acordes, de técnicas específicas para compor suas canções, fazendo uso de um instrumento afinado para se expressar, o bailarino também carece de um repertório de movimentos e de um instrumento (corpo) capacitado para externá-los.

“Como o poeta deve, cada vez mais, conhecer e dominar o seu idioma para ter maior capacidade de expressar as suas idéias sem restrições, o dançarino deve dominar a técnica do movimento para aumentar seu vocabulário corporal e o coreógrafo precisa conhecer os princípios do movimento para enriquecer seu material principal de trabalho – o movimento. Porém, sem deixar que esta classificação se torne inibidora da espontaneidade interpretativa e criativa”. ( Robatto,1994, p.110)

Quanto maior o aprimoramento do bailarino, mais natural a dança se torna em seu corpo, permitindo que a mensagem que ele queira transmitir através do movimento, flua livremente e atinja mais vivazmente o espectador. Dessa maneira, a técnica não entra como o ponto principal do fazer dança, mas sim como um meio facilitador à expressividade do movimento.
O conhecimento e aplicação da técnica da dança nos grupos espíritas, além de favorecer uma maior consciência corporal e do movimento, ampliando suas possibilidades de expressão coreográficas, ajuda na prevenção de possíveis lesões que a prática incorreta pode levar a termo. Oferecerá também base segura para que o coordenador do grupo ou o responsável pelo treinamento técnico possa realizar seu trabalho de maneira correta e honesta, respeitando o corpo em formação de crianças e adolescentes sob sua responsabilidade.
Assim como o evangelizador busca apoio no conhecimento científico para entender a educação e, dessa forma ampliar suas ações na seara espírita; nada há de errado em se buscar o conhecimento teórico e prático da dança, desde que, o trabalho no grupo espírita de arte não se encerre na técnica, mas que alicerçado em Kardec e na vasta literatura espírita, descortine o que está além dela, e se desdobre em auto-conhecimento, melhoria interior, caridade e esperança dentro e fora da casa espírita.


A MENSAGEM ESPÍRITA NA DANÇA

“ O espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites.”
Léon Denis

O que caracteriza um grupo como “grupo espírita de dança” não é apenas a mensagem espírita expressa em suas coreografias, pois como se refletiu no início desse artigo, qualquer grupo profissional ou amador pode fazer isso, independente de ser espírita ou não. Todavia, cabe a nós o papel de o fazê-lo, implícita ou explicitamente, pois se nós que somos bailarinos e coreógrafos espíritas não falarmos de temas espíritas em nossas coreografias, quem falará por nós?
Essa frase, bastante conhecida entre os bailarinos espíritas, me tocou profundamente num momento crucial dentro do grupo espírita de dança em que eu atuava. Naquele momento a dúvida me assombrava. Nosso grupo sempre se caracterizou pela criação de ballets onde a temática espírita era bem declarada e comecei a me questionar sobre esse nosso posicionamento. Será que o caminho que estávamos seguindo era correto? Será que precisávamos ser tão diretos?
Comentando essa questão com uma colega das lides espíritas, ela me disse essa frase, que me marcou pra vida toda. Essas palavras passaram a me conduzir com segurança dentro da dança espírita. Esta colega, nem sabe que é autora dessa frase, nem o quanto ela representou pra mim, nem para os grupos que posteriormente dirigi, mas ela me deu um caminho, que ajudou traçar a história de vários grupos espíritas de dança.
Independente do caminho que cada grupo escolha para se guiar, o conteúdo espírita-cristão é compromisso intransferível, seja na vivência diária ou refletido nas coreografias que são criadas.

“ Sim, certamente, o Espiritismo abre à arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado, e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.” ( Kardec in: Obras Póstumas, 1995, p. 157)



“Os artistas da Terra deverão inspirar-se nesses modelos sobre-humanos que os ensinamentos espírita lhes tornarão familiares. A Educação estética humana comporta concepções cada vez mais elevadas a fim de que o sentimento do belo penetre e desenvolva-se em todas as almas. Uma evolução já se produz nesse sentido, e ela se acentuará sob a influência do Além. (Dennis,1994, p.15)

Vale ressaltar a responsabilidade perante tarefa tão importante e delicada, a de transmitir o conteúdo sem mácula. A fidelidade quanto a conteúdo doutrinário deverá ser alicerçada no estudo e na vivência do Evangelho do Cristo. Como asseverou-nos o Espírito de Verdade, no capítulo VI do Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.”
Não há como transformar em dança um conteúdo que se desconhece. O estudo da doutrina espírita é parte essencial da criação coreográfica, na dança espírita, sem o qual ela corre o risco de tornar-se vazia e perde seu papel transformador.

“ O Espírito não pode se identificar senão com aquilo que sabe, ou que crê ser uma verdade, essa verdade, mesmo moral, torna-se para ele uma realidade que exprime tanto melhor quanto a sente melhor; e então, se à inteligência ele junta a a flexibilidade do talento, faz passar as suas próprias impressões nas almas dos outros; quais impressões, contudo, pode provocar aquele que não as tem? (Kardec in: Obras Póstumas, 1995, p.153)

Voltando o olhar para o processo de criação coreográfica no qual a mensagem torna-se peça central, vemo-la muitas vezes perdida em meio a movimentos mecânicos e desprovidos de significado, muitas vezes, sem que aqueles que o fazem tenham consciência disso. Isso acontece no âmbito da dança em geral, pela própria formação técnica que o bailarino é submetido, numa perspectiva dualista que insiste em separar corpo e mente, cujas raízes filosóficas remontam a Idade Média.
ROBATTO (1994) afirma que tradicionalmente o bailarino só é trabalhado no seu aspecto técnico-corporal, ficando geralmente relegada a um segundo plano sua formação técnica no que se refere a expressividade do movimento e à interpretação coreográfica. Isso acontece porque os exercícios técnicos de condicionamento físico, por vezes, são tão massacrantes que não levam em consideração a expressividade. Porém, não se pode trabalhar o próprio corpo, depositário de toda uma vivência espiritual, mental, afetiva, sensorial, etc.,considerando-se apenas os objetivos técnicos quantitativos, dirigidos para se tentar alcançar novos records de capacidade física. É preciso saber lidar com a indispensável disciplina técnica, sem bloquear a sensibilidade e a imaginação do bailarino.
Vale lembrar que o papel do coreógrafo é fundamental no sentido de transmitir aos bailarinos a intenção do movimento, ou buscar junto com os mesmos através de uma vivência mais significativa, movimentos que expressem melhor o pensamento coreográfico; pensamento este, embasado no estudo e nas reflexões de todo o grupo envolvido na montagem.
Toda obra artística é passível de diferentes interpretações, no entanto, é importante tornar clara a mensagem que se queira transmitir. Neste aspecto, a auto-crítica e o olhar de outras pessoas antes da finalização da obra é fundamental para que ela seja repensada e que para que a melhoria seja buscada. Nada tão desanimador, quanto ouvir ao final de uma apresentação: O que você quis dizer com aquela coreografia?
A mensagem espírita na dança é compromisso sério que exige, estudo, comprometimento e criatividade do artista espírita. Que ela esteja presente em nossas coregrafias com a seriedade e o respeito que ela merece, mas que antes disso, ela brilhe em nossos atos e atitudes, através das coreografias que criamos em nossa vivência diária e que oferecemos ao Pai cotidianamente.


REFORMA INTIMA: O ELEMENTO INDISPENSÁVEL


A mensagem espírita é um dos aspectos que caracteriza um grupo espírita de dança, principalmente aquela que é que vivenciada e transmitida pelo exemplo. Nas coreografias, a técnica conferirá material adequado para que ela se construa, o estudo das obras básicas será o alicerce, mas somente a sintonia com as esferas superiores, através do esforço por melhorar-se é que produzirá a vibração que arrebatará quem assiste.

“O sentimento é foco gerador de energia emuladora, que, qual dínamo gerador de vibrações superiores, atingirá o coração, o sentimento, estimulando as qualidades superiores dos que estão em seu raio de influência, levando-os a seguir o exemplo, a imitar, não mecanicamente, mas atraído pela força emuladora que emana do próprio coração.” ( Alves, 1997, p. 155)

Daí o compromisso maior do fazer dança espírita, acender a luz que nos é própria para que a Luz do Cristo resplandeça em nossas obras.

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Estai em mim, e eu em vós: como a vara de mim mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
Eu sou a videira, vós as varas: quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.” (Bíblia, João, 15:4,5,10)

Segundo ALVES (2000), a arte não é apenas uma forma de expressão, mas acima de tudo, uma forma de crescimento interior, de desenvolvimento das potências da alma. Quando direcionada aos canais superiores da vida, auxilia o Espírito a vibrar em sintonia mais elevada, afinando seus sentimentos estéticos com vibrações sutis, com o amor que se amplia e se expande ao infinito.
A reforma íntima se reveste de caráter fundamental num grupo espírita de dança, pois que forças, que luzes, que consolações, que esperanças podemos passar às outras almas se não temos em nós próprios senão obscuridade, dúvida, incerteza e fraqueza ? Será também nosso elemento de ligação com a espiritualidade maior, atraindo a companhia dos bons espíritos, fazendo-nos crescer e dando às nossas criações um caráter que ultrapassa o visível, o palpável, o sensorial, mas antes de tudo, um misterioso encanto, que atrai e convida a transformação de dentro pra fora.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


A arte se reveste de nuances sensíveis e profundas, que em sua maioria ainda não conseguimos apreender, a medida que vamos evoluindo, crescendo espiritualmente, vamos tomando contato gradualmente com a fonte da qual ela emana.
A arte é tarefa importante na casa espírita e se reveste da mesma importância que as demais atividades. O estudo, o trabalho sério e desejo sincero por querer melhorar-se são a base segura para que o trabalho se desenvolva com êxito.
Concluindo as reflexões acerca da técnica e da mensagem na dança espírita, penso que a mensagem espírita é o tesouro que se oferece quando se dança, mas a sua força maior não está no roteiro coreográfico que se prega, nem no virtuosismo técnico adquirido, mas repousa sem dúvida na transformação moral que já se alcançou.
Que as criações coreográficas que são feitas nos grupos espíritas de dança se sedimentem não apenas na boa vontade de fazer e servir, mas que busquem apoio no estudo da doutrina, nas técnicas da dança e na vivência do amor e da caridade. Com toda a certeza a mensagem ficará comprometida se houver carência técnica, o mesmo podemos asseverar da falta de conhecimento doutrinário, mas a ausência do ideal superior comprometerá ainda mais, pois será como uma música que toca por um instante e depois desaparece, sem produzir eco algum nos recônditos da alma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Walter Oliveira. Educação do Espírito: Introdução à Pedagogia Espírita. 1ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita,1997.

ALVES, Walter Oliveira. Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita: Teoria e Prática. 1ª edição. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2000.

BOUCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

DANTAS, M. Dança: o enigma do movimento. Porto Alegre: Editora UniverCidade/UFRGS, 1999.

DENNIS, Leon. O Espiritismo na arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1994.

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 3ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1995.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 182ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1978.

KATZ, H. Entre a Heresia e a Superstição. In: São Paulo. SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, CENTRO CULTURAL SÃO PAUL. Navegar é Preciso: Portugal – Brasil: problemas estruturais e similaridades conceituais na dança de Brasil e Portugal. São Paulo, 1998 p. 7-16

ROBATTO, L. Dança em Processo: a linguagem do indizível. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1994.

ROCHA, Ruth. Minidicionário. São Paulo: Scipione, 1995.

VIANNA, Klauss. A Dança.2ª ed. São Paulo: Siciliano, 1990.

ZANOLA, Renato. Arte e Espiritismo: Textos de Allan Kardec, André Luiz e Outros Autores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Edições CELD, 1997

Ballet Stagium - artigo disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ballet_Stagium

Grupo Corpo - artigo disponível em :
http://www.grupocorpo.com.br/pt/historico.php

Técnica – artigo disponível em :
http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A9cnica

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dança: Vibração da Alma


A dança é a vibração da alma que a arte impulsiona sobremaneira.
O corpo é repositório de nossas experiências mantidas nos séculos de nossas existências.
Em cada uma delas, nos despojamos deixando ao solo o acúmulo e o desgaste de nossas energias somáticas. No entanto, levamos conosco em maior profundidade a cada vez, o resultado e o acúmulo das energias, sentimentos e emoções em nosso perispírito: Nosso corpo luminoso, energético e mais sutil. É ele a ligação do ser que somos com o ser que estamos.
A arte, sutilizada e espiritualizada, que eleva-se às esferas em busca da beleza e da divindade, emana e detém as energias através deste veículo: o corpo perispiritual.
A dança, presente nas demais artes e mãe destas todas, é importante veículo de manipulação fluídica e espiritual, deixada ao largo porque ao se definir no ser, em seus contornos e desenhos primários, reflete em maior amplitude o grau evolutivo deste mesmo ser.
A humanidade, embora haja evoluído muito em referência ao seu ponto de partida, muito distante ainda se encontra do seu ponto de chegada.
É-nos mais fácil responder ao que conhecemos. E mais perto ainda nos encontramos das tribos arcaicas que da angelitude.
Nosso corpo fluídico guarda em si os sons dos tambores que buscavam as chuvas, dos chocalhos que cantavam para os ventos e dos batedores que buscavam o deus da força, o deus da natureza.
Gravados neste veículo menos grosseiro, estão os cânticos ritualizados e unicórdios das sociedades primitivas e a eles respondemos como às lembranças carinhosas de nossa infância.
Quando o homem houver desligado-se das imagens e sensações terrenas, através do intercâmbio e das visões do mundo espiritual, das esferas onde a alegria, a harmonia e a paz reinam, refletirá em seu corpo espiritual e este imprimirá no soma as energias divinas e harmônicas do universo.
A dança será então, como já o é em esferas sutilizadas, um cântico de louvação fisicalizada em luzes e formas, emitindo irradiação salutares e terapêuticas, unindo almas em sintonia com os benfeitores e elevando o ser ainda mais a planos de sutilíssimas harmonias.
A arte que plasma no homem a harmonia divina, ainda não foi por ele descoberta em sua real utilidade.
Ainda há pouco iniciou-se a busca da espiritualização da arte. Esta é sim, reflexo do homem hodierno, que ainda busca, qual náufrago em desespero, o prumo e o centro de suas aspirações. Suas inquietações ainda o perturbam e desarranjam sem que lhes traga a felicidade.
Arte e homem caminham juntos por serem tão somente uma única e mesma coisa.
A arte é o elemento divino do homem, sua emoção, sua aspiração, seu ideal, deveria ser-lhe alavanca a Deus. E o será quando ele, o homem, melhorando-se, melhorá-la, elevando-se, elevá-la e divinizando-se, divinizá-la.

Ariel ( Espírito) - Denize de Lucena ( médium)

24 janeiro de 2003.

domingo, 31 de maio de 2009

DANÇA CONTEMPORÂNEA E ESPIRITISMO:CAMINHOS PARA O CONHECIMENTO

“A dança é um ato litúrgico do cosmo quando parteja. O que nasce, dança. O que vive, dança.
E o que
morre permuta outro campo de movimento ... inicia novo círculo de expressão com nova significação!”

(Espírito Ananda, 2003- Casa de Oração Fé e Amor)

Gostaria de compartilhar neste texto conceitos que, acredito, aproximam a linguagem da dança contemporânea e o Espiritismo. Portanto, achei conveniente relatar um pouco da minha trajetória pessoal entre estes dois universos, a fim de que, possamos entender de onde surgiram estes possíveis diálogos e juntos busquemos outras proximidades.
Sou bailarina e espírita. Atuo como coreógrafa, professora e pesquisadora de dança contemporânea. Graduada pela Universidade Estadual de Campinas e especialista em estudos contemporâneos da dança pela Universidade Federal da Bahia, em parceria com a Faculdade Angel Vianna, no Rio de Janeiro. Integro o Grupo das Excaravelhas de dança contemporânea em Campinas. Escolhi trabalhar como arte-educadora ou artista-docente como define [1]Isabel Marques.
Há mais ou menos sete anos tornei-me adepta do Espiritismo, o que causou – me uma significativa transformação no meu modo de perceber e conceber a vida. A Doutrina Espírita revelou-me a riqueza do evangelho de Jesus através do conhecimento amplo que Ele possui sobre o amor e o amar. A Doutrina Espírita me revelou ainda, na sua filosofia, a crença na vida após a morte, a possibilidade de comunicação entre encarnados e desencarnados e a reencarnação.
O maior aprendizado que obtenho na Doutrina Espírita é exatamente que todos nós um dia encontraremos a Deus e que para isso é necessário que superemos as nossas imperfeições representadas no Espiritismo pelo tripé da: vaidade, do orgulho e do egoísmo. Mas, como superar as nossas imperfeições? Conhecendo-nos a nos mesmos. Esta é a grande chave que nos é ofertada pelo Espiritismo.
Durante todos estes anos de atuação com a dança e por tanto com a arte, venho justamente procurando compreender de que maneira a dança me ajuda a construir conhecimento sobre o mundo e sobre mim mesma. Tive oportunidade de me apropriar de algumas técnicas da dança moderna e de algumas linguagens de danças brasileiras, passando pela capoeira, congos, maculelê, samba - de – roda e outras manifestações da cultura popular brasileira.
No entanto, foi na dança contemporânea que encontrei sentido para prosseguir construindo conhecimento. O motivo maior desta escolha está relacionado aos princípios históricos a que ela se atrela.
Na década de 60, período em que a dança contemporânea efervescia nos Estados Unidos, o palco italiano deixava de ser o lugar exclusivo da dança, que passa a invadir os espaços públicos. Coincidentemente foi em uma igreja em Nova York, a Judson Memorial Church, que um grupo de bailarinos realizou uma variedade de experimentações, questionando o que poderia ser nomeado como dança e em quais espaços essa arte poderia ocupar e se expor. (Salles, 2006)
A proposta era encurtar as distâncias entre artista e público, tanto através dos espaços ocupados, como através da movimentação utilizada nas criações, nas quais foram introduzidas gestuais comuns ao cotidiano popular. Outra possibilidade aberta nesta proposta foi o diálogo entre diferentes estilos de dança e práticas corporais, buscando encontrar nas diferenças as congruências de sentidos e significados.
Este pensamento ideológico possibilitou uma diversificação da linguagem da dança, no sentido em que ela pôde acolher diferentes meios de manifestação pelo movimento. Caem por terra verdades absolutas de corpos específicos adequados à dança, de artistas superiores a espectadores, de apenas uma forma de dança adequada a simbolizar, leveza, tristezas, amores, morte, assim como, a idéia de que a dança sempre é uma manifestação de alegria e beleza.
As relações e experiências humanas são consideradas pela dança contemporânea como um recurso de criação essencial, pois estas experiências revelam-se nos relacionamentos como um conhecimento sobre o indivíduo e deste sobre o mundo. Uma vez que ela não possui um código de movimentos pré-estabelecido, como encontramos na dança clássica, por exemplo, a dança contemporânea permite ao seu intérprete-criador, elaborar e construir os seus próprios códigos de movimentos, de acordo com o conhecimento e os sentimentos que possui, tanto no aspecto técnico da dança como no aspecto moral. Dançar é sua forma pessoal de interpretar o mundo. É o seu caminho pessoal com Deus.
Ao criarmos e elaborarmos códigos de movimentos, encontrarmos representações na linguagem da dança para nossos sentimentos ou percepções do mundo, consequentemente reelaboramos idéias e conceitos de nós mesmos ou da sociedade na qual estamos inseridos. Além de revermos conceitos, temos a possibilidade de criarmos através da arte, universos imaginários onde a poesia pode substituir a apatia. Ou seja, abrimos espaços para a transformação da nossa realidade.
O ato de criar é portanto, um ato de construção de conhecimento e de transformação do ser humano. Uma vez que para sonhar com um novo homem e uma nova sociedade é preciso primeiramente tomar a consciência do nosso atual estado evolutivo, sabendo que ele é temporário e passageiro e assim, aspirarmos condições mais elevadas.
É justamente neste aspecto que a dança contemporânea e a Doutrina Espírita se aproximam, na minha opinião, partindo do princípio de que expressamos exatamente aquilo que somos e pensamos, mas não estamos presos a estas formas. Deus nos possibilitou a capacidade de modificá-las através do nosso esforço próprio e do nosso aprendizado.
Entretanto todas estas etapas de construção de conhecimento só terão sentidos quando o maior deles for adquirido. A de que Deus rege todas as coisas do universo e que portanto sendo eu parte do universo também sou regida por Deus.
O caminho desta mudança no entanto, é percorrido num tempo indeterminado e em espaços variados onde o Espírito pode habitar. Assim, tal qual na dança, é o movimento, o tempo, o espaço, que estimula o surgimento da beleza, do novo, em detrimento do velho.



Uma vez que, somos Espíritos eternos e que sabemos que a nossa evolução ocorre na terra, assim como em outros planetas, à medida que, nos transformamos vamos modificando também nossos códigos de movimentos e nossas expressões. Vamos modificando as nossas forma de dançar, de representar a nós mesmo e ao mundo. Eis aqui mais um diálogo possível da linguagem da dança contemporânea com o Espiritismo, pois ela representa o estágio evolutivo do nosso Espírito.
Em suma; chegar a Deus no estágio que nos encontramos é um percurso composto de muitas vicissitudes e dos vícios que trazemos desta e de outras encarnações. O processo de criação da dança contemporânea, sob a luz do Espiritismo, nos permite encontrar a beleza apesar das sombras. Ou seja, ela não mascara as nossas imperfeições e as nossas dificuldades, mas ela aponta caminhos por meio da arte do movimento de transformamos esta realidade, em uma nova realidade com Jesus que nos ensina a amar buscando o verdadeiro sentimento de humanidade:
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo
(Mateus 22:37-39)
Dançar perpetua o movimento do eterno e do divino em nós.

[2]Nascer, Morrer, renascer ainda e Progredir sem cessar, tal é a lei
(Allan Kardec)

[3]O que vive, dança. E o que morre permuta outro campo de movimento...inicia novo círculo de expressão com nova significação!”
Bibliografia Utilizada:
ALLAN, K. (1857)- O Livro Dos Espíritos de Estudos-tradução Francisco Maugeri-1ª.edição (2007). Cáritas Editora – Campinas.
ALLAN, Kardec. (1864)- – O Evangelho Segundo O Espiritismo de Estudos -tradução – Francisco Maugeri – 1ª. edição (2004). Cáritas Editora – Campinas.
BANES, S.(1987) Terpsichore in Sneakers. Connecticut, Wesleyan- University Press.
HAY, Débora. Artigo (s/ data) : Comprimentos de Ondas ou Fio Telefônicos? In: DALY, Ann (org). Em que se Transformou a Dança Contemporânea?.
SALLES, Paula. (2006) Dançando o Sagrado na Contemporaneidade. Monografia de conclusão do curso de Especialização em Estudos Contemporâneos de Dança pela UFBA e pela Faculdade Angel Vianna.
Referências Bibliográficas:
BOURCIER, Paul. (1987). História da Dança no Ocidente. Editora Martins Fontes. São Paulo.
In, BREMSER, M. (1999) - Fifty Contemporary Choreographers
Selection and editorial matter-
CORTES, Gustavo Pereira - Dança, Brasil: festas e danças populares
MARQUES, Isabel (1999) – Ensino de Dança Hoje: textos e contextos. São Paulo: Editora Cortez.
GOLBERG, K (s/d). –Performance – Live art since the 60’
PORTINARI, Maribel (1989) –História da Dança – Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira



[1] Profa. Dra. Isabel Marques, fundadora e diretora da Caleidos Cia de Dança. Vide o livro o Ensino da Dança Hoje: textos e contextos. 1999.

[2] Frase escrita no túmulo de Allan Kardec
[3]Vide introdução do texto.

DANÇA ESPÍRITA: O QUE SABEMOS ?

por Denize de Lucena[1]




Esperançosos de que também a dança, se faça colaboradora deste sublime momento de ascensão da arte divinizada, que como bem previu o insigne codificador (1995, p. 327) "em breve, vereis os primeiros esboços da arte espírita, que mais tarde ocupará o lugar que lhe compete", iniciamos nosso diálogo sobre esta linguagem que tanto nos encanta.

Antes de polir a pedra e construir abrigos, os homens já se movimentavam ritmicamente para se aquecer e comunicar.
Considerada a mais antiga das artes, a dança é também a única que dispensa materiais e ferramentas. (...) As danças coletivas também aparecem na origem da civilização e sua função associava-se à adoração das forças superiores ou dos espíritos para obter êxito em expedições guerreiras ou de caça ou ainda para solicitar bom tempo e chuva. (...) No antigo Egito, 20 séculos antes da era cristã, já se realizavam as chamadas danças astroteológicas em homenagem ao deus Osíris. O caráter religioso foi comum às danças clássicas dos povos asiáticos. (ANDRADE, 2000)


Ligada ao homem e ao sagrado, a dança não raro, está presente nas manifestações ritualísticas de quase todas as civilizações antigas e se mantém viva, em muitos agrupamentos religiosos da contemporaneidade. Desde o aparecimento do próprio homem, há registros de sua presença nas pinturas rupestres e nas primeiras grandes civilizações como Grécia, Índia e Egito. De caráter mágico, logo passou a ser conduzida por iniciados e sacerdotes, sendo geralmente circular e coletiva.

(...) na medida em que a arqueologia consegue traduzir as inscrições dos "povos pré-históricos", ela nos indica a existência da dança como parte integrante de cerimônias religiosas, nos permitindo considerar a possibilidade de que a dança tenha nascido a partir ou de forma concomitante ao nascimento da religião. (MOURA, 2007)

Após um longo período de isolamento e proibições durante a Idade Média, a dança foi resgatada pelas cortes da Itália renascentista, dando-lhe um caráter de virtuose, passando a ser executada em pares. Sua crescente lapidação e exigência técnica deram origem ao ballet clássico e à profissionalização desta arte. Iniciado na Itália, desenvolvido em França e aprimorado na Rússia, o ballet, devolveu à mulher a possibilidade de participar da dança, dando-lhe o tom sublime, leve e puro da mulher-princesa, da mulher-divina, da mulher-amada que irá permear o ballet de repertório[2].
As mudanças ocorridas no século 20, em especial na sua segunda metade, causaram transformações em vários setores da sociedade, inclusive o da dança, fazendo nascer diversas categorias e técnicas. Nomes como Isadora Duncan, George Balanchine, Pina Bausch, Martha Graham e Rudolf Laban, dentre muitos outros, irão colaborar para o desenvolvimento e a profissionalização da arte da dança.
Para nos orientar no estudo do nosso objeto em questão – a dança espírita – vamos começar por um conceito. Como a definição comum de adjetivo é palavra que qualifica o substantivo, podemos entender aqui, que espírita agrega qualidade à dança. Assim, vamos defini-la como a dança pensada e executada com objetivos ligados à Doutrina Espírita. Embora Kardec não tenha frisado em suas obras referência expressa à dança, podemos e iremos certamente tomar para esta tudo o que foi dito a respeito da arte e da inesgotável fonte de inspiração que lhe se tornará o mundo material e espiritual, sob a ótica Espírita.

Sem dúvida, o Espiritismo abre à arte um campo inteiramente novo, imenso e ainda inexplorado. Quando o artista houver de reproduzir com convicção o mundo espírita, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações e seu nome viverá nos séculos vindouros (...) (KARDEC, 1995, p.159)

As páginas na literatura espírita referentes à dança são esparsas mas valorosas, como os bailados graciosos que espargiam feixes de luzes multicores, descritos por Camilo Castelo Branco no conhecidíssimo "Memórias de um suicida" de Yvonne do Amaral Pereira ( pp. 552 – 554 ) e a dança emocionante de Isadora Duncan (espírito), relatada de maneira empolgante pelo jornalista e dramaturgo Silveira Sampaio, em Pare de Sofrer ( pp. 94 – 97 ). [3] Pinceladas de atuações da dança no plano espiritual, que nos revelam a utilização desta linguagem como instrumento para manipulação de energias e seu emprego com finalidade terapêutica.

A sala escureceu e o silêncio se fez. A pesada cortina desapareceu e em meio à escuridão do palco surgiu uma névoa prateada que foi crescendo e aos poucos tomando uma forma de mulher. (...) Formas coloridas de pessoas com seus instrumentos dançavam no ar (...)
(...) Ela começou a dançar e dela emanavam luzes coloridas (...), expressando sentimentos de luz e beleza tão elevados que energias coloridas e luminosas nos atingiam e emocionavam sensibilizando-nos a alma.
(...) Quando terminou e ela curvando-se acenou adeus, da platéia silenciosa e extasiada saiu uma energia de um rosa brilhante misturada ao lilás suave, que a abraçou com carinho. (...) pude ver que nos olhos dela, brilhantes de emoção, duas lágrimas rolaram qual pérolas de gratidão e de amor. (SAMPAIO, 2002, pp. 96 – 97)

Quem já passou pela experiência da dança, sabe o quanto de energia se consegue perceber e emanar daquele que dança. Distante da razão da arte dramática e mais próxima da subjetividade da música, a dança materializa as energias e as faz movimentar, potencializando-as com as energias provenientes do próprio ser e dialogadas com as daqueles que o observam.

Ele (o perispírito) vibra aos menores impulsos do espírito e transmite ao corpo físico as vibrações forçosamente reduzidas. (...) A correlação entre os dois envoltórios: físico e perispiritual, diz respeito a uma lei única, a das vibrações. (DENIS, 1994, pp. 96 - 97)

O dançarino espírita, consciente desta lei, desenvolve seus movimentos como um maestro que rege a orquestra da natureza. Não são apenas sinestésicos, mas energéticos. Iniciam-se nos seus próprios centros de força, irradiam-se entre si, potencializando-se e ampliam-se, ocupando os espaços da apresentação em um diálogo vibracional entre palco e platéia. Ao dançar, o dançarino espírita pinta no ar com tintas de luzes coloridas e fluidos que mobilizam os sentimentos que escolheu e lapidou durante os ensaios. A música o auxilia na materialização destas forças que envolvem a si e à platéia. Daí o cuidado que se deve ter na escolha do repertório musical.
A música espírita não é, sem dúvida, a única opção mas certamente facilita a criação do coreógrafo e a execução dos dançarinos espíritas pois que, de igual objetivo, já traz em si a temática e a vibração adequadas à visão espírita. Outra razão para a preferência pela música espírita é a sua quantidade e qualidade cada vez maior, além de estarmos também colaborando para a sua divulgação. Como nos diz a equipe de dança do site Evangelizar "Se nós que somos artistas espíritas, se nós que somos bailarinos e coreógrafos espíritas, não falarmos de temas espíritas em nossas coreografias, quem falará por nós?"[4]
Multiplicam-se músicos, intérpretes e grupos[5] com CDs lançados ou não, com músicas mediúnicas ou não, que podem e devem ser utilizadas pelos grupos e solistas da dança espírita, somando assim para um verdadeiro trabalho de socialização da arte espírita, ainda tão pouco conhecida do nosso público. Outro aspecto que gostaríamos de abordar sobre a dança (também presente nas demais linguagens da arte espírita) é o trabalho atuante da espiritualidade, com os encarnados e desencarnados durante as apresentações.

Espetáculos, sinfonias, apresentações são utilizados assim como instrumentos cirúrgicos a repararem simultaneamente os corpos etéreos daqueles que ali se encontram, arrebatando do fundo de suas almas, o reconhecimento da filiação divina a que têm vínculo e herança. (BENTO, 2002)

Ao dançar[6], fazemos do nosso corpo o instrumento para as notas da espiritualidade. E porque não há espaço para racionalizar, nos fazemos instrumentos quase perfeitos, espécies de refletores de energias que nos envolvem e envolvem a todos no ambiente. Todas as atividades desenvolvidas pelos agrupamentos espíritas são utilizadas pela espiritualidade para desenvolver ações educativas, reconfortadoras e/ou terapêuticas. A música, já utilizada em algumas de nossas casas para ambientação nos momentos de prece, meditação, de preparação para o passe ou para os trabalhos mediúnicos é um dos muitos exemplos que podemos citar da utilização das energias potencializadas pela atividade artística, empregadas pelos benfeitores espirituais. Algumas casas já utilizam oficinas de artes simultaneamente às atividades mediúnicas, por orientação da própria espiritualidade, como forma de terapêutica espiritual. Além da utilização da arte junto às atividades da infância e juventude, pela maioria de nossas instituições.
Quando o homem houver desligado-se das imagens e sensações terrenas, através do intercâmbio e das visões do mundo espiritual, das esferas onde a alegria, a harmonia e a paz reinam, refletirá em seu corpo espiritual e este imprimirá no soma as energias divinas e harmônicas do Universo. A dança será então, como já o é em esferas sutilizadas, um cântico de louvação fisicalizado em luzes e formas, emitindo irradiações salutares e terapêuticas, unindo almas em sintonia com os benfeitores e elevando o ser ainda mais, a planos de sutilíssimas harmonias. (ARIEL, 2003)

A dança espírita, como qualquer outra atividade em nossas instituições, exige comprometimento e dedicação, companheirismo e estudo, harmonia e auto-educação. Não está limitada àqueles que possuem conhecimentos técnicos e corpos amadurecidos pela técnica, mas sem dúvida, é de grande importância ter pelo menos a orientação de alguém que conheça alguma das técnicas de dança, os elementos básicos desta linguagem e noções de composição coreográfica para que se dê a qualidade mínima para um trabalho que se pretende, seja respeitado e apoiado pelos companheiros espíritas.
A continuidade, já nos dizia Kardec (2007, p. 25), é característica de um estudo sério. Assim também deve ser com o trabalho da arte dentro das lides espíritas. Deve se ter claros os objetivos, ter um programa de pelo menos médio prazo, com regularidade de encontros, exercícios de preparação corporal que possam dar sintonia e sincronismo entre os elementos do grupo, proporcionar instantes de estudo da linguagem sempre buscando as conexões com as bases doutrinárias, avaliações freqüentes do trabalho do grupo mas também do crescimento e amadurecimento dos seus componentes na linguagem e na Doutrina.
Dançar, se dança em qualquer lugar, para fazer aulas de dança e se apresentar, há uma centena de academias e escolas em qualquer cidade deste país, não é necessário estar em um centro espírita. Mas se a minha escolha consciente é reunir o prazer de dançar com o conhecimento que a Doutrina Espírita despertou em mim, e fazer desta união a minha atividade na seara do Cristo, aí sim, eu vou participar de um grupo de dança espírita.

Ah... minha bailarina
Seu desafio é crescer
Antes do que você pensa
A luz mais intensa virá de você[7] (César Tucci)

Deixamos aqui o convite para que possamos estimular o fazer e o pensar a dança espírita em nossas instituições, eventos e atividades, no intuito de incentivar grupos e companheiros no envolvimento com a dança, revestida das sutilezas da nossa Doutrina, aproveitando toda a sua potencialidade no desenvolvimento do homem novo que tanto aguardamos. É necessário que aqueles que ainda timidamente atuam nesta área possam trocar experiências, somando e multiplicando para que possamos ver com maior freqüência a dança espírita no nosso meio e além. E se perguntarem por onde começar, a resposta será simples: pelo começo. Reunir aqueles cujo interesse pela dança espírita seja ponto em comum, é um excelente iniciar.
O que dançar, como dançar, quando dançar, onde dançar, com quem dançar e todas as demais questões que por ventura possam estar acolhidas nos corações espalhados pelo Brasil, são questões que se auto-responderão quando a ação do QUERER DANÇAR for o móvel dos nossos encontros. Abrir espaços dentro e fora de nós, é de hora, o mais que suficiente. Utilizar todos os veículos, a internet, as listas, grupos, orkut, msn, produzir e divulgar vídeos, artigos, diários com as experiências já realizadas e as inquietações presentes, promover e estimular a promoção de mostras, encontros e festivais que possibilitem a troca e a qualificação dos que fazem ou querem fazer dança espírita, são caminhos que necessitam ser multiplicados em nossas cidades, estados e em todo o país. Precisamos buscar palcos que abriguem nossos ideais e fazer da dança espírita mais uma bandeira para a construção da nova era.
Quem me dá a honra desta contra-dança?!

Denize de Lucena
(Salvador, Ba)
denizedelucena@terra.com.br



Bibliografia:

§ Andrade, Dyone. Quem dança é mais feliz. - A História da Dança. Disponível em: http://br.geocities.com/quemdancaemaisfeliz/interna1.html Acesso: 16/06/2008
§ ARIEL. (espírito) Dança, vibração da alma. Mensagem psicografada. Arquivo da Comunidade Arte e Paz. Salvador, 2003.
§ BENTO. (espírito) Caridade, Arte e Beleza. Mensagem psicografada. Arquivo da Comunidade Arte e Paz. Salvador, 2002.
§ DENIS, Leon. O espiritismo na arte. 2a. ed.Niterói, RJ: Lachâtre, 1994.
§ KARDEC, Allan - tradução Guillon Ribeiro. Obras Póstumas. 27a. ed. Brasília: Editora FEB, 1995.
§ KARDEC, Allan - tradução Salvador Gentile. O Livro dos Espíritos. 169a. ed. Araras, SP: IDE, 2007.
§ Moura, Prof. Dr. Manoel Oriosvaldo de (Org.) - Faculdade de Educação – USP. Metodologia do Ensino de Matemática - História da Dança. Disponível em:
http://www.passosecompassos.com.br/matedanca/historiadanca.htm
Acesso: 16/06/2008
§ SAMPAIO, Silveira (espírito).GASPARETTO, Zibia (médium). Pare de sofrer. 12a. ed. São Paulo: Vida e Consciência, 2002.

[1] Licenciada em Artes Cênicas pela UFBa - BA, Pós-Graduada em Supervisão Escolar pela Cândido Mendes –RJ, espírita desde 1995, integrante da Comunidade Arte e Paz – Ba.

[2] Histórias compostas para ballet. Ex.: O quebra-nozes, A bela adormecida e O lago dos cisnes, de Tchaikovsky; Coppélia, de Léo Delibes; Gisele, de Adolphe Adam; Romeu e Julieta, de Prokofiev; dentre outros.
[3] Ver bibliografia.
[4] http://www.evangelizar.org.br
[5] podemos sugerir ainda o site http://www.musicexpress.com.br/Genero.asp?genero=33 e http://www.cvdee.org.br/ev_musica.asp onde podem ser encontradas várias músicas espíritas.
[6] É claro que me refiro aqui a uma dança específica, a uma dança que busca a beleza e a elevação.
[7] Trecho da música "bailarina" de César Tucci. ( tucci@francanet.com.br )

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A DANÇA NA CASA ESPÍRITA: BUSCANDO CAMINHOS POSSÍVEIS

Daniela Luciana Pereira Soares
almanova@ig.com.br

“O lugar da dança é nas casas, nas ruas, na vida.”
Maurice Béjart

1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS


Há um tempo atrás, falar em dança na casa espírita, com certeza provocaria certa estranheza. Hoje em dia, sua presença está se tornando gradativamente mais comum e, penso particularmente, que num futuro não muito distante, nossos textos fazendo referência ao preconceito e as dificuldades iniciais na sua difusão dentro da casa espírita é que causarão certo espanto nos confrades espíritas.
Atualmente, a dança aparece nos cenários espíritas junto a performances teatrais ou musicais ou em grupos constituídos especificamente para trabalharem com essa linguagem artística – os chamados grupos espíritas de dança[1].
Dentre os grupos que conhecemos, muitos já contam com um pouco mais de uma década, mas a grande maioria vem de iniciativas recentes. Dessa forma, a base teórica e filosófica que sustenta o trabalho dos grupos ainda está sendo construída e refletida pelos mesmos. Embora saibamos que independente de termos consciência ou não, o nosso trabalho sempre reflete uma ideologia, uma maneira de pensar e a dança espírita não fuja disso, acreditamos que suas bases ainda estão criando raízes, através da troca de experiência entre os grupos e das reflexões buscadas nos grupos de discussão, bem como nos encontros voltados ao estudo da arte espírita e nas mostras espíritas de dança.
A finalidade do presente artigo é refletir sobre os objetivos da dança na casa espírita e os diferentes papéis possíveis de serem exercidos por ela no seio da comunidade espírita. Faremos isso, através de um estudo de caso, tendo por companhia autores da Doutrina Espírita. Usaremos como material de análise, as experiências vivenciadas no Grupo Espírita de Dança Evolução[2] no período de 1995 a 2004, período em que tivemos na coordenação do grupo.
Não temos a pretensão de lançar definições, apenas levantar pontos a serem refletidos, baseados na nossa experiência particular. Acreditamos que a reflexão sobre a prática vivenciada nos grupos, alicerçada no estudo da doutrina espírita deve ser uma constante, para que o trabalho não se perca na práxis e se traduza num pensar, agir e sentir coerentes.

1.1 ENCONTRANDO UMA DIREÇÃO

O Grupo Espírita de Dança Evolução foi criado em Dezembro de 1995 no Instituto de Difusão Espírita, quando um grupo de jovens da mocidade, atendendo a um pedido do coordenador da Evangelização Espírita Infantil se uniu para criar uma coreografia sobre o tema Evolução. Até então, nenhum dos jovens havia tido contado com a dança nem dentro nem fora da casa espírita, somente uma jovem tinha formação em dança e posteriormente passou a coordenar o grupo. Com a apresentação dessa primeira coreografia, o grupo se constituiu como grupo espírita de dança e nunca mais parou. É aí que começa uma história, pano de fundo para nossa análise, construída desde a base por cada um de seus integrantes.
No início do grupo, a idéia que tínhamos sobre os objetivos da dança na casa espírita, pairava sobre a divulgação do espiritismo. Com o tempo, passamos a participar de encontros de arte espírita, voltados ao estudo e a reflexão e fomos construindo uma nova visão de arte. Somado a isso, o Departamento de Evangelização do Instituto de Difusão Espírita, oferecia anualmente um Curso de Formação de Evangelizadores[3], no qual o papel da arte era muito valorizado, e se fundamentava na melhoria interior e na interação com a espiritualidade maior. Isso contribuiu para que constantemente nos questionássemos sobre a finalidade da dança na casa espírita e fôssemos buscar respostas.

“... A arte não é apenas uma forma de expressão, mas acima de tudo, uma forma de crescimento interior, de desenvolvimento das potências da alma. Pode-se tornar um ótimo elemento de integração vertical, auxiliando o Espírito a vibrar em sintonia mais elevada, afinando seus sentimentos estéticos e sintonizando com as esferas elevadas da vida, com vibrações sutis, com o amor que se amplia e se expande ao infinito.” (Alves, 2000, p.192)

Essas experiências foram fundamentais, para que posteriormente viéssemos a definir com clareza os objetivos do nosso grupo. Mas o que é objetivo?
Procurando auxílio no dicionário, encontramos as seguintes definições:

Objetivo: Fim. Objeto que se quer atingir.
Objeto: Coisa. Motivo. Finalidade.
Finalidade: fim a que se destina uma coisa; objetivo; alvo.

O objetivo é a bússola norteadora de qualquer trabalho, como vimos acima, o alvo que se quer atingir. Se não sabemos claramente aonde queremos chegar, não chegaremos a lugar algum ou andaremos qual barco sem rumo ora se dirigindo a uma direção, ora a outra, seguindo a livre vontade do vento.
Como disse anteriormente, a partir de várias vivências que nos fizeram refletir sobre os objetivos da dança na casa espírita e estudando obras da codificação referente à arte, elegemos como objetivo primeiro do grupo a reforma íntima.

“O objetivo essencial da arte, já dissemos, é a busca e a realização da beleza; é ao mesmo tempo, a busca de Deus, uma vez que Deus é a fonte primeira e a realização perfeita da beleza física e moral. Quanto mais a inteligência se purifica, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da idéia do belo. O objetivo essencial da evolução será, portanto, a busca e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e em suas obras. Tal é a regra da alma em sua ascensão infinita.” (Denis, 1994, p.9)

A interpretação pessoal que fazemos do trecho acima do livro “O Espiritismo na Arte” de Léon Denis, é que o objetivo essencial da arte repousa na melhoria íntima. Quando ele afirma que “o objetivo essencial da evolução será, portanto, a busca e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e em suas obras”, entendemos que a realização da beleza no ser, não pode estar senão voltada para a melhoria interior, para a reforma íntima, visto que o corpo físico é perecível e só o espírito é eterno. Da mesma forma quando se refere à realização da beleza “em suas obras”. Nossas obras são o reflexo do que somos, e só refletirão a beleza à medida que esta cumprir-se em nós.

“Isto porque, para conceber, para produzir obras geniais, capazes de elevar as inteligências até o máximo do pensamento, até o ideal de beleza perfeita, é necessário primeiramente criar-se a si mesmo, edificar sua própria personalidade e torna-la suscetível de provar, de compreender os esplendores da vida superior e a harmonia eterna do mundo. Que forças, que luzes, que consolações, que esperanças podemos passar às outras almas se não temos em nós próprios senão obscuridade, dúvida, incerteza e fraqueza? (Denis, 1994, p. 87)

O trabalho do Grupo Espírita de Dança Evolução se desdobrava em vários grupos divididos por faixa etária, para facilitar o trabalho com a técnica de dança e os interesses e necessidades de cada idade. Nesta época, o grupo já contava com vários integrantes-professores, que ministravam aulas de dança nestes grupos. A existência de um objetivo comum, claro para todos os integrantes, possibilitava um trabalho em uníssono, sem notas dissonantes aqui ou acolá. Também servia de alerta constante, para que buscássemos em nossas coreografias o reflexo desse ideal, nos afastando do culto a vaidade e ao orgulho ainda tão presentes em nós.
Acreditamos que a “reforma íntima” resume em si muitos dos objetivos que possamos traçar para a arte na casa espírita. À medida que nos esforçamos em nossa melhoria interior, vamos gradualmente sintonizando com vibrações de teor mais elevado, despertando o potencial divino, latente em nós. Segundo ALVES (2000), o sentimento corresponde a estado vibratório que se amplia e se desenvolve. À medida em que se emite vibrações, sintoniza com vibrações de teor semelhante, e mais se desenvolve. Além disso, afirma que:

“Existem estados vibratórios ou sentimentos que o intelecto apenas, por si só, não atinge. Energias espirituais superiores vibram em nível superior e para senti-las é preciso entrar em sintonia. Apenas com a razão, com o intelecto, não conseguiremos elevar nosso padrão vibratório para sentir tais vibrações sutis. A arte, contudo, nos permite atingir esses estados superiores, elevando nossa vibração.” (Alves, 2000, p.193).

Tendo a reforma íntima por fim do grupo espírita de dança, o objetivo da apresentação coreográfica passa a ser o “doar-se”. A apresentação ganha um novo sentido, que vai além da demonstração técnica, da divulgação da doutrina, mas atinge o campo da vibração, a ação sem palavras, o diálogo de alma para alma.
Isso que nos moveu a realizar uma apresentação na Clínica Psiquiátrica Antônio Luiz Sayão, em Araras/SP. Todos estávamos cientes, de que os espíritos encarnados que ali se encontravam em corpos mutilados, desequilibrados mentalmente, não receberiam nossa mensagem pelos sentidos comuns, mas pela energia, pela vibração, pelo contato espírito a espírito que a arte ali estabeleceria.
A transmissão do conteúdo espírita-cristão também é elemento importante, mas não um fim em si mesmo. A maior propaganda que podemos fazer da Doutrina Espírita é nossa própria modificação. De que adianta nos aplicarmos fervorosamente na difusão do espiritismo através da arte, se não nos aplicarmos a vivenciá-lo em nós mesmos. É claro que a Doutrina Espírita estará presente como temática central nas coreografias dos grupos espíritas de dança, mas como já afirmamos em textos anteriores, sua força pousará na transformação moral já alcançada. Fácil é ludibriarmos sobre nossa verdadeira moradia espiritual através das aparências da carne, mas difícil é escondermos a vibração que emanamos, campo em que as máscaras caem e as transparências revelam.


2.2. CAMINHOS E POSSIBILIDADES

“Nenhum caminho é igual a outro não há rima perfeita nem em versos alexandrinos,mas todos os sonhos são voláteis às seis da manhã.”
Simão de Miranda

A dança na casa espírita se desdobra em inúmeras possibilidades, como as demais linguagens artísticas – música, teatro, literatura, artes plásticas. Da criança ao idoso ela propicia uma gama de vivências significativas, seja no aspecto educativo, terapêutico, social e espiritual, sem contar os benefícios físicos e psíquicos proporcionados por ela.
Segundo NANNI (1995), na Grécia a dança constituía parte fundamental da educação; realizada de várias formas, era empregada a partir de cinco anos até o limiar da velhice.
Entre as civilizações primitivas, vemo-la ligada aos rituais, ao êxtase, como elemento de ligação com o divino. Em diferentes períodos da humanidade podemos ver essa relação que ela estabelece com a religiosidade, ora intensificando-a, ora se desligando quase por completo, refletindo o pensar, o sentir, o querer de um povo, de uma época.
Iluminada pelo conhecimento espírita, mostra-se como elemento de ligação com Deus, de sensibilização, de estímulo à capacidade criativa, de elevação de padrões vibratórios, dentre tantos outros.
A dança, a arte de forma geral, é sem dúvida elemento valioso dentro da casa espírita, que se bem utilizado, canalizará energias para o bem e belo, propiciando elevação e renovação.

“Não há dúvida de que a arte produz fortes estímulos a fortalecer e impulsionar nossas energias para o bem e para o belo, despertando nossas energias superiores, trabalhando nossa vontade, nosso querer para o melhor, para o belo, para o nobre, para o superior. Ao mesmo tempo a arte permite oferecer oportunidade de experiências variadas atendendo às tendências e aptidões individuais. A música, a dança, o teatro, as artes plásticas, a literatura, formam ambiente de nível superior a tonificar o Espírito, alimentando suas tendências para o melhor e estimulando as regiões superiores da alma, o germe da perfeição, a essência divina que se desenvolve gradativamente em todos nós.” (Alves, p.47)

No campo da evangelização espírita infantil direcionará a vontade a ideais superiores, será veículo de educação do sentimento, despertará o potencial criativo. A dança vem de encontro com a necessidade de movimento e expressão da criança, educativa por excelência, poderá estar presente como estratégia metodológica para se aprender um conteúdo, de forma ativa e construtiva ou como oficina em um horário a parte da evangelização, propiciando vivências estéticas que se refletirão em toda a vida da criança.

“Deixai que as crianças bebam nas fontes mais puras da Arte terrestre... Que elas possam exercitar a sua sensibilidade, ouvindo as melodias mais doces jamais feitas; olhando as cores e as luzes mais sutis já tecidas; declamando os poemas mais elevados jamais compostos; sentindo as produções mais próximas da divindade que o homem já atingiu. Fazei isso com todas elas e se não tiverdes no futuro todos os homens literalmente artistas, tê-lo-eis moralmente melhores e mais criativos.” (Schiller, mensagem psicografada, médium Dora Incontri, in: A Educação Segundo o Espiritismo, p. 215)

Dentro da experiência vivenciada no Grupo Espírita de Dança Evolução, a oficina de dança era realizada em um horário a parte do horário da evangelização, embora também estivesse presente nas aulas e em comemorações realizadas pelos evangelizadores, e reunia crianças que tinham interesse pela dança[4]. O trabalho da oficina de dança, que ocorria semanalmente e em horários pré-estabelecidos, consistia no aprendizado de técnicas específicas de dança e vivências de improvisação e criação livre, que também abrangiam temas que as crianças estavam estudando na evangelização. O ápice do processo ocorria na criação e apresentação de coreografias a partir dos temas estudados, o que também servia de estímulo ao trabalho do grupo, que se submetia a treinos e ensaios que exigiam muita disciplina, persistência e força de vontade.
Além do campo da evangelização infantil e da mocidade espírita, a dança oferece ao adulto e ao idoso as mesmas oportunidades de expressão e crescimento, alcançando também, níveis terapêuticos. María Fux, bailarina argentina e criadora da dançaterapia[5] nos diz que a necessidade do adulto expressar-se através de seu corpo é uma necessidade imperiosa, pois com o passar dos anos, o adulto, especialmente, restringe seus limites corporais e psicológicos. Afirma ainda, que somente arrancando e desenvolvendo as possibilidades internas e físicas que temos, é que podemos equilibrar-nos.
“Creio que a dança e o movimento, encarado no criativo que todos temos, ajudam a uma profilaxia terapêutica que deveríamos realizar diariamente.”
“O movimento e a possibilidade de estimulá-lo com a música, a palavra ou o silêncio, revela no espaço a psicologia profunda do indivíduo. Isto se obtém melhorando as possibilidades existentes, desenvolvendo outras e, fundamentalmente, fazendo sentir ao grupo a possibilidade criadora que há dentro de cada um de seus integrantes: deste modo é possível desenvolver não só a parte física, mas também a psíquica, estimulando-os a um reencontro que produz descarga e alegria.” (Fux, 1983, p.115)


Grupo Espírita de Dança Evolução Adulto apresentando-se durante a III Mostra Espírita de Dança


A primeira experiência com adultos e idosos no Grupo Espírita de Dança Evolução, surgiu da necessidade de envolvermos mais a casa espírita e os pais dos integrantes do grupo na vivência artística, no nosso caso, a dança.
O trabalho do grupo era intenso, ensaios em finais de semana e feriados, muitas apresentações e viagens, enfim, uma proposta que exigia muita dedicação e envolvimento, nem sempre compreendida por aqueles que olhavam de fora. Embora o apoio que recebíamos da casa espírita que nos acolhia, sentíamos a necessidade da arte ser vista com a mesma dimensão das outras atividades da casa. Então, partindo da premissa que se a dança nos trazia tantos benefícios físicos como espirituais, também o faria aos demais companheiros da casa, não importando a idade cronológica, iniciamos o grupo adulto.
As aulas eram realizadas semanalmente e em horário pré-estabelecido e, como citamos nos grupos anteriores, compreendiam também vivências de diferentes técnicas de dança e improvisação. O pequeno grupo, formado inicialmente, chamou a atenção de outros trabalhadores da casa, e mais companheiros vieram espontaneamente se juntar à nova experiência. Ao propormos uma apresentação, como resultado do trabalho e das vivências do grupo, num primeiro momento, mostraram-se resistentes, mas a resistência inicial foi cedendo lugar à alegria, ao entusiasmo e a um envolvimento cada vez maior.
Para exemplo e admiração de todos, uma das senhoras mais idosas da casa, foi uma das primeiras a integrar o grupo, ensinando-nos a todos, que os limites estão mais na mente que no corpo, e que a dança, vivenciada em sua totalidade, não impõe limites, senão aqueles que nós próprios nos impomos.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossas limitações ainda não nos permitem divisar toda a dimensão da dança na vida humana e além dela. Aqui, apresentamos um pouco da nossa experiência e das nossas reflexões particulares no campo da dança na casa espírita.
Os caminhos são muitos. Cada experiência é única e muito particular.
Não existe caminho certo, nem receitas a serem seguidas. A experiência se constrói dentro do contexto em que está inserida e das relações que estabelece com cada indivíduo envolvido, em determinada época e lugar. Com toda a certeza, as experiências vivenciadas no Grupo Espírita de Dança Evolução, no período de 1995 a 2004 serão diferentes das atuais e estas, diferentes das porvindouras. Cada experiência é singular, sem parâmetros para comparações, mas significativa e transformadora, para cada um, dentro do seu universo particular.
Desejamos, que o nosso relato contribua de alguma forma, com o trabalho dos diferentes grupos, não como modelo a ser seguido, mas como pequenina semente, que levada pelo vento, dê origem a novas vivências de transformação e alegria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


ALVES, Walter Oliveira. Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita: Teoria e Prática. 1ª edição. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2000.

ALVES, Walter Oliveira. Prática Pedagógica na Evangelização: Conteúdo e Metodologia. 1ª edição. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1998.

DENNIS, Leon. O Espiritismo na arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1994.

FUX, María. Dança, experiência de vida. 3ª ed. São Paulo: Summus, 1983.

INCONTRI, Dora. A Educação segundo o Espiritismo. 1ª ed. São Paulo: FEESP, 1997.

NANNI, Dionísia. Dança Educação: Pré-escola à Universidade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

ROCHA, Ruth. Minidicionário. São Paulo: Scipione, 1995.

O que é dançaterapia. Disponível em:
http://www.dancaterapia.com.br/

[1] Entendemos aqui, por grupo espírita de dança, um conjunto de pessoas, seja jovens, adultos ou crianças que se reúnem regularmente para aprimorarem técnicas de dança, estudarem e montarem coreografias à luz do espiritismo, bem como realizarem apresentações.

[2] Grupo criado em Dezembro de 1995 no Instituto de Difusão Espírita em Araras/São Paulo, que desenvolveu um trabalho de dança à luz do Espiritismo envolvendo crianças, jovens, adultos, idosos e portadores de necessidades educativas especiais. O trabalho do grupo culminou com a criação da I Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito” em Outubro de 2001. O grupo atua até hoje.
[3] O Curso de Evangelizadores é oferecido anualmente no Instituto de Difusão Espírita – Araras/SP no período do carnaval e conta com oficinas artísticas de dança, música, teatro, artes plásticas e literatura.
[4] O Departamento de Evangelização do Instituto de Difusão Espírita oferecia várias oficinas artísticas (dança, música, teatro, artes plásticas e literatura) em horários a parte da evangelização. As crianças tinham liberdade de optar pela oficina que mais lhe despertasse o interesse. Muitas crianças faziam mais de uma oficina.
[5] Dançaterapia é uma abordagem corporal, voltada ao conhecimento pessoal que estimula o movimento criativo e a espontaneidade do corpo, motivando a comunicação e a integração entre as pessoas, procurando oferecer-lhes confiança para transformar o eu não posso por uma nova atitude do corpo que diz: Sim, eu Sou Capaz. Fundamentada na metodologia criada pela bailarina argentina María Fux e na transpessoalidade, a Dançaterapia busca utilizar os recursos artísticos, educacionais e terapêuticos da dança para encontrar as pessoas e auxiliá-las a descobrir caminhos, superar os desafios e viver mais felizes.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dança como expressão do Espírito

E que seja perdido o dia que não se dançou uma única vez...
Nietzsche

Esse texto tem por finalidade demonstrar de maneira sucinta como a dança tem representado, através dos tempos, sua importância dentro do contexto espiritual, seja por meio de ritos em alguma religião ou crença, seja pelo simples ato de celebrar.
No espiritismo, a dança vem ganhando terreno como disciplinadora de ações e sentimentos por ser uma das expressões artísticas que pode trabalhar o corpo visando o bem estar do ser em sua essência.
A dança, além de sua importância por si só, pode auxiliar as outras artes, tornando o artista mais completo, pois desenvolve a consciência corporal, nos fornecendo dimensões maiores para expressar nossos sentimentos.
A pesquisa deste trabalho se fez mediante sites da internet e livros relacionados à dança e ao espiritismo. Alguns filmes também serviram de suporte. O trabalho da mostra de dança espírita da cidade de Araras que está na sua 7ª edição, nesse ano de 2008[1] também vem servindo como material de pesquisa de campo para que possamos teorizar e investigar a respeito da dança com temática espírita.
Sendo “a música mediadora entre a vida material e a vida espiritual” (ARMIN, in Oliveira, 1995, p.52) podendo ser usada para a dança acontecer, então, a dança também fica entre o material e o espiritual. Quando se abstém da música, ficam então os sons refletidos através das imagens que a dança pode proporcionar.
Quando o homem começou a dançar?
Acredita-se que o homem pré-histórico tenha desenhado momentos de dança nas paredes das cavernas. Movimentos que se unificados nos lembram uma coreografia fotografada. A arqueologia não deixa de indicar a existência da dança como parte integrante das cerimônias religiosas. Alguns teóricos afirmam que a dança nasceu como uma necessidade de expressão.
Os primeiros registros de atividades dançantes datam do Paleolítico Superior, quando os homens viviam em pequenas hordas isoladas, cultivando um primitivo individualismo, apenas ocupados em coletar alimentos. Não há indicação de que cultuassem alguma divindade ou acreditassem na vida após a morte, nem que possuíssem um pensamento lógico. Ao contrário, dominados pelo pensamento mágico, pareciam acreditar ser possível, através de representação pictórica, alcançar determinados objetivos: abater um animal, por exemplo. Nesse sentido é que se poderia interpretar as pinturas e desenhos encontrados nas paredes e tetos (...) a representação de figuras humanas disfarçadas de animais, numa atitude de executantes de danças mágicas destinadas a alcançar aquele intento. (MENDES, 1987, p.9).

O homem demonstra, através dos tempos, como a dança vem auxiliando seu autoconhecimento e suas variadas necessidades de se expressar. A dança muda de caráter e vestimenta através de diferentes momentos históricos, atendendo de uma maneira, talvez sutil, aquelas necessidades. As técnicas aparecem e, algum tempo depois, a negação delas. Os movimentos contemporâneos e os diferentes estilos nos dão possibilidade de um estudo abrangente sobre as diferenças apresentadas e refletidas em cada momento histórico. No entanto, não cabe a nós fazê-lo neste momento.

Papel social da dança
A dança tem sua relevância dentro de diferentes grupos sociais como, por exemplo, a escola, a comunidade e os grupos artísticos independentes.
Nos grupos espíritas, a dança vem sendo desenvolvida como parte do trabalho espiritual no qual o grupo se insere. Muitas vezes, em várias discussões acerca do trabalho espírita, os coordenadores de trabalho ainda não sabem como definir esta arte que começa a se destacar em nosso meio. Alguns grupos trabalham a temática, observando e cuidando das letras das músicas coreografadas, outros grupos tentam passar uma mensagem que tenha como base os princípios da doutrina.

Objetivos da dança na vida do espírito
A dança desenvolve ricos mecanismos de evolução do pensamento e do sentimento, pois disciplina atos e ajuda na construção de novos pensamentos e desejos. Ela pode promover no espírito um estado de alegria, afastando depressões e tristezas, quando bem direcionada. Renova seus quadros de memória de maneira prazerosa e disciplinada. Eleva o pensamento do espírito, sendo às vezes até caracterizada como uma atividade mediúnica.
A dança:
• modifica a vontade;
• reflete uma maneira de sentir;
• disciplina os sentimentos;
• ajuda a identificar as necessidades espirituais do ser e seus conflitos;
• é um processo educativo;
• processa identificação e limpeza nos quadros da memória e
• explora o pensamento e as emoções.
Acreditamos que a dança, como disciplinadora de sentimentos e conduta, deveria controlar a vaidade, dar consciência do espaço (você no espaço X espaço trabalhado), proporcionar cuidados com o corpo e a mente, com os processos mentais e com as ações como reprodução dos pensamentos.
O trabalho com crianças pode abrir uma oportunidade de vivência e convivência, disciplinando atos e abrangendo sua consciência quanto às possibilidades do corpo, sistematizando condutas.
Com adolescentes a dança disciplina e organiza ATOS, conscientiza a mente, abrange possibilidades do uso do corpo, disciplinando a sexualidade e a libido, ajuda a tratar o corpo como um instrumento do qual se faz uso, pois na doutrina sabemos que é o envoltório do qual nos utilizamos para o cumprimento das nossas tarefas (provas e expiações) no plano material.
Nos adultos percebemos uma reenergização, uma nova educação de postura e respiração e abertura de novas possibilidades de trabalho com o corpo.
O trabalho social cria oportunidades de trabalho nas áreas de teatro, expressão, coreografias e criações artísticas variadas, há valorização e entendimento do corpo, facilitando relações que estabeleçam o respeito como meta, notando-se uma preocupação maior com a saúde e também a multiplicação do trabalho.
A dança, através dos tempos, vem reforçando sua importância no contexto espiritual. Percebemos sempre a mensagem embutida nas danças com temática espírita: danças que permitem a reflexão de valores morais, éticos e espirituais.
Podemos concluir com este texto que a dança é, para alguns artistas espíritas, uma das expressões máximas do espírito, pois o artista se expõe por inteiro usando somente o corpo para sua execução.
A dança é uma aliada das artes, pois nos possibilita praticar nossa consciência corporal nos dando flexibilidade de ações. Ela é a expressão em si, pois seus movimentos podem relatar o que vai no íntimo do artista. Sendo bem trabalhada, com princípios e metas ordenadas dentro de objetivos que atendam à educação postural, moral e de consciência, a dança pode ser uma aliada no crescimento do ser humano, visto como integral, atendendo também às necessidades do espírito. Entende-se por dança, nesta dissertação, os movimentos corporais que podem ou não atender a técnicas. Movimentos que podem representar diferentes estilos e maneiras de se expressar, tendo como ferramenta o próprio corpo, trabalhado para a educação do espírito.

Sabemos que o Espiritismo contém um corpo de idéias todas elas confluentes para a edificação do ser humano em face da vida, no aqui e no agora existencial. Apesar de não ser ‘moralista’ como muitos de seus adeptos o apresentam, é moralizante em todos os sentidos, porque parte do pressuposto de que só poderemos cumprir nosso destino evolutivo orientando as ações por uma ética fundamentada no amor fraterno, aquele ensinado no Evangelho de Jesus, sejamos claro. (Tourinho, 1991: 15)

Observando a questão 127[2] do livro O Consolador, notamos que há uma questão de reforma íntima nos preceitos da pergunta sobre atividade artística. Cabe então, ao coreógrafo, trabalhar simultaneamente o que deve ser esta expressão através da dança. Além disso, a dança desenvolve a confiança, o respeito e a responsabilidade do trabalho em grupo, facilitando, assim, nossa reforma íntima.
Como escreveu Béjart (in Garaudy, 1973, p. 8)
...o homem está só diante do Incompreensível: angústia, medo, atração, mistério. As palavras de nada servem (...) o que é preciso é entrar em contacto. O que o homem busca para além da compreensão, é a comunicação. A dança nasce dessa necessidade de dizer o indizível, de conhecer o desconhecido, de estar em relação com o outro (...), e é claro, na relação máxima consigo mesmo.

Eneida Gomes Nalini de Oliveira
(Franca – SP)
eneidanalini@yahoo.com


Eneida Gomes Nalini de Oliveira – Professora de Literatura e Língua Inglesa (metodologia e prática) graduada pela Universidade de Franca (Unifran). Especialista em Língua Inglesa e Literaturas. Mestranda na área de lingüística. Participante ativa do Instituto Arte & Vida, da cidade de Franca-SP, desde a sua fundação como atriz, diretora, monitora e coordenadora de trabalhos desenvolvidos no Instituto. Formada em profissionalizante de ballet clássico pelo Instituto Musical Ars Nova, da cidade de Franca. Estudiosa na área de dança e suas diversas modalidades.










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

· OLIVEIRA, Weimar Muniz. Renascimento da arte, à luz da terceira revelação. Goiânia: Feego, 1995.
· EMMANUEL (Espírito) e XAVIER, Francisco Cândido (Médium). O consolador. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1940.
· GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Danser sa vie. Antônio Guimarães Filho e Glória Mariani. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1973.
· MENDES, Miriam Garcia, A dança. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1987.
· TOURINHO, Nazareno. A dramaturgia Espírita. Rio de Janeiro: FEB, 1991.


[1] A Mostra de Dança Espírita de Araras acontece todos os anos na cidade de Araras (SP); oficinas, estudos e mostra com temática espírita são enfatizados durante o encontro. Maiores informações: glussari@hotmail.com
[2] 127 – O preceito “corpo são, mentalidade sadia” poderá ser observado tão-somente pelo hábito dos esportes e labores atléticos?
No que se refere ao “corpo são”, o atletismo tem papel importante e seria de ação das mais edificantes no problema da saúde física, se o homem na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia (...)
“Bastará essa observação para compreendermos que a “mentalidade sadia” somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.” (1940: 81)