SAPATILHA ESPÍRITA



“... Sim, certamente o Espiritismo abre á arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado; e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.”
Allan Kardec

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Espiritismo na Arte

A beleza é um dos atributos divinos. Deus colocou nos seres e nas coisas esse misterioso encanto que nos atrai, nos seduz, nos cativa e enche a alma de admiração, às vezes de entusiasmo.
A arte é a busca, o estudo, a manifestação dessa beleza eterna, da qual aqui na Terra não percebemos senão um reflexo. Para contemplá-la em todo o seu esplendor, em todo o seu poder, é preciso subir de grau em grau em direção à fonte da qual ela emana, e esta é uma tarefa difícil para a maioria de nós. Ao menos podemos conhecê-la através do espetáculo que o universo oferece aos nossos sentidos, e também através das obras que ela inspira aos homens de talento.
O espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites. A comunicação que ele estabelece entre os mundos visível e invisível, as informações fornecidas sobre as condições da vida no Além, a revelação que ele nos traz das leis superiores de harmonia e de beleza que regem o universo, vem oferecer a nossos pensadores, a nossos artistas, inesgotáveis temas de inspiração.
A observação dos fenômenos de aparição proporciona a nossos pintores imagens da vida fluídica, das quais James Tissot já pôde tirar proveito nas ilustrações de sua Vie de Jésus (Vida de Jesus). Oradores, escritores, poetas, encontrarão nesses fenômenos uma fonte fecunda de idéias e de sentimentos. O conhecimento das vidas sucessivas do ser, sua ascensão dolorosa através dos séculos, o ensinamento dos espíritos a respeito dessa grandiosa questão do destino, lançarão, em toda a história, uma inesperada luz, e fornecerão ainda aos romancistas, aos poetas, temas de drama, móbeis de elevação, todo um conjunto de recursos intelectuais que ultrapassarão em riqueza tudo o que o pensamento já pôde conhecer até o momento.
Quando refletimos a respeito de tudo o que o espiritismo traz à humanidade, quando meditamos nos tesouros de consolação e de esperança, na mina inesgotável de arte e de beleza que ele vem lhe oferecer, sentimo-nos cheios de piedade pelos homens ignorantes e pérfidos cujas malévolas críticas não tem outra finalidade senão tirar o crédito, ridicularizar e até mesmo sufocar a idéia nascente cujos benefícios já são tão sensíveis. Evidentemente essa idéia, em sua aplicação, necessita de um exame, de um controle rigoroso, mas a beleza que dela se desprende revela-se deslumbrante a todo pesquisador imparcial, a todo observador atento.
O materialismo, com sua insensibilidade, havia esterilizado a arte. Esta arrastava-se na estreiteza do realismo sem poder elevar-se ao máximo da beleza ideal. O espiritismo vem dar-lhe novo curso, um impulso mais vivo em direção às alturas, onde ela encontra a fonte fecunda das inspirações e a sublimidade do gênio.
O objetivo essencial da arte, já dissemos, é a busca e a realização da beleza; é, ao mesmo tempo, a busca de Deus, uma vez que Deus é a fonte primeira e a realização perfeita da beleza física e moral.
Quanto mais a inteligência se purifica, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da idéia do belo. O objetivo essencial da evolução será, portanto, a busca e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e em suas obras. Tal é a regra da alma em sua ascensão infinita.
Já aí impõe-se a necessidade das existências sucessivas como meio de adquirir, através de esforços contínuos e graduais, um sentido cada vez mais preciso do bem e do belo. O inicio é modesto aqui no plano terrestre: a alma prepara-se primeiramente através de tarefas humildes, obscuras, apagadas; em seguida, pouco a pouco, em novas etapas, o espírito adquire a dignidade de artista. Mais além ainda, ele se abrirá às concepções amplas e profundas, que são privilégio dos gênios, e tornar-se-a capaz de realizar a lei suprema da beleza ideal.
Na Terra nem todos os artistas inspiram-se nesse ideal superior. A maior parte limita-se a imitar o que chamam "a natureza", sem se aperceberem de que é apenas um dos aspectos da obra divina. Porém no espaço a arte se reveste, ao mesmo tempo, das mais sutis e mais grandiosas formas, e ilumina-se com um reflexo divino.
É por esse motivo que neste estudo fizemos questão de consultar sobretudo nossos espíritos guias, de recolher e resumir seus ensinamentos. Nos domínios onde eles vivem, as fontes de inspirações são mais abundantes, o campo de ação amplia-se; o pensamento, a vontade, o poder supremo afirmam-se e resplandecem com mais intensidade.
*
A arte, sob suas diversas formas, é a expressão da beleza eterna, uma manifestação da poderosa harmonia que rege o universo; é a irradiação do Alto que dissipa as brumas, as obscuridades da matéria, e faz-nos entrever os planos da vida superior. Ela é, por si mesma, rica em ensinamentos, em revelações, em luz. Ela encaminha a alma para as regiões da vida espiritual, que é sua verdadeira vida, e a que ela aspira a reencontrar um dia.
A arte bem compreendida é poderoso meio de elevação e renovação. É a fonte das mais puras alegrias; ela embeleza a vida, sustenta e consola nas provas e traça com antecedência para o espírito os caminhos do céu. Quando ela é sustentada, inspirada por uma fé sincera, por um nobre ideal, a arte é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de civilização e aperfeiçoamento.
Porém, com bastante frequência nos dias atuais, ela é aviltada, desviada de seu objetivo, subjugada a mesquinhas teorias de escola e é sobretudo considerada um meio de se chegar à fortuna, às honras terrestres. E empregada para lisonjear as más paixões, para superexcitar os sentidos e assim faz-se dela um meio de rebaixamento.
Quase todos aqueles que receberam a sagrada missão de encaminhar as almas para a perfeição esquivaram-se dessa tarefa. Tornaram-se culpados de um crime ao se recusarem a instruir e a iluminar as sociedades e ao perpetuarem a desordem moral e todos os males que recaem sobre a humanidade. Assim explicam-se a decadência da arte em nossa época e a ausência de obras fortes.
O pensamento de Deus é a fonte das altas e sãs inspirações. Se nossos artistas soubessem dai extrair algo, encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores felicidades. O espiritismo vem oferecer-lhes os recursos espirituais dos quais nossa época necessita para regenerar-se. Ele nos faz compreender que a vida, em sua plenitude, não e outra coisa senão a concepção e a realização da beleza eterna.
Viver, é sempre subir, sempre crescer, sempre desenvolver em si o sentimento e a noção do belo.
As grandes obras não são elaboradas senão no recolhimento e no silêncio, ao preço de longas meditações e de uma comunhão mais ou menos consciente com o mundo superior. A algazarra das cidades pouco convém à elevação do pensamento; ao contrário, a calma da natureza, a profunda paz das montanhas, facilitam a inspiração e favorecem a eclosão do gênio. Assim verifica-se uma vez mais o provérbio árabe: o ruído pertence aos homens, o silêncio pertence a Deus!
O espírita sabe que imenso auxílio a comunhão com o Além, com os espíritos celestes, oferece ao artista, ao escritor, ao poeta. Quase todas as grandes obras tiveram colaboradores invisíveis.
Essa associação fortifica-se e acentua-se através da fé e da prece. Estas permitem que as forças do Alto penetrem mais profundamente em nós e impregnem todo o nosso ser. Mais do que qualquer outro, o espírita sente as poderosas correntes que passam nas frontes pensativas e inspiram idéias, formas, harmonias, que são como o material do qual o gênio se servirá para edificar sua soberba obra.
A consciência dessa colaboração dá a medida de nossa fraqueza; ela nos faz compreender que parcela vem da influência de nossos irmãos mais velhos, de nossos guias espirituais, daqueles que, do espaço, debruçam-se sobre nós e nos assistem nos trabalhos. Ela nos ensina a nos mantermos humildes no sucesso. É o orgulho do homem que esgotou a fonte das grandes inspirações. A vaidade, defeito de muitos artistas, torna insensível o espírito e afasta as grandes almas que consentiriam em protegê-los. O orgulho forma como que uma barreira entre nós e as forças do Além.
O artista espírita tem consciência de sua própria indigência, porém sabe que acima de si abre-se um mundo sem limites, pleno de riquezas, de tesouros incalculáveis, perto dos quais todos os recursos da Terra são apenas pobreza e miséria. O espírita tem também conhecimento de que esse mundo invisível, se deste ele souber tornar-se digno purificando seu pensamento e seu coração, pode tomar mais intensa a ação do Alto, fazê-lo participar de suas riquezas através da inspiração e da revelação, e dela impregnar obras que serão como que um reflexo da vida superior e da glória divina.
Espiritismo na Arte
Léon Denis

Fala ao artista espírita

Para ser um artista espírita não basta só trabalhar com o conteúdo espírita cristão, mas implica sobretudo aplicar esse conteúdo em si mesmo. O Evangelho diz que a boca fala do que está cheio o coração. No coração do artista espírita deve estar o evangelho. Quão belas não serão as obras artísticas de um coração repleto de disciplina e de caridade. E como nos disse São Paulo: "A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses... tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre."
Irmão, tua responsabilidade é tua postura. Tua sintonia, é tua missão. Renove os quadros mentais de tua alma para neles esculpir tua obra de arte. Renova a qualidade de teus sentimentos para neles colher as novas sinfonias de Amor.
Leonardo Da Vinci não tirou as suas obras do nada, ele as colheu das infinitas criações mentais que emitia em profusão ao seu redor. Ludwig Van Beethoven produziu suas obras da jardinagem dos séculos, e gerou sinfonias a partir das infinitas harmonias produzidas por seus sentimentos.
O artista espírita tem como compromisso e responsabilidade tornar-se antes de tudo artífice de seus pensamentos e sentimentos.
Pintai obras de arte em vossos quadros mentais. Produzi com vossos sentimentos sinfonias de amor, harmonia e bondade. Elevemos nossa sintonia a altura de quem buscamos. Busquemos ser artistas do Cristo, Artistas do Pai, Médiuns do palco.
Esqueçamos nossas tolas vaidades, e despojados de nosso amor próprio subamos em direção ao Pai. Ampliemos nossa vibração, e como médiuns do amor possamos brilhar a nossa luz, somada a de muitos da espiritualidade maior. Luz essa a ser refletida em toda platéia.
A obrigação primeira de um artista espírita é fazer de sua vida uma obra de harmonia e beleza. "Buscai primeiro o reino de Deus e tudo o mais vos será dado em acréscimo."
Mas aquele que percorrer esse caminho encontrará flores sem conta, não as palmas da humanidade, mas o apoio e sustentação dos amigos espirituais que distribuem a mancheia sua luz.
Temos que nos tornar campos fecundos a profusão das sementes daqueles que nos inspiram. Este campo tem que estar pronto para a árvore crescer.
O Artista Espírita tem como código de conduta o Evangelho de Jesus.
Como já vos foi dito, a mostra é pura luz. É um fluxo energético de luz pulsante que é emanada por todo aquele que tem como propósito máter divulgar os postulados de Jesus, fundamentado na codificação de Kardec.
As vibrações que emanam dos irmãos que se propõem a realizar de fato um ato de criação dentro da arte, já os envolvem imediatamente neste dínamo gerador de energias.
A beleza da arte está na simplicidade e na pureza de quem trabalha com ela. O traço tremulo de um pincel, o passo incerto das sapatilhas, a pena afoita do poeta, o acorde frágil do músico e a inexperiência do ator, são infinitamente brindados e amparados por todo o plano superior que na grande maioria das vezes nos é invisível mas está sempre ativo. Amigos, estes são os nossos artistas, é essa a energia que buscamos. A conquista estética das grandes produções deve antes ser burilada, e vem depois da conquista da pureza e da simplicidade de cada um.
Nossas portas se destrancam, nossas cortinas se abrem e nossos corações pulsam de alegria. Queremos ver nossos amigos juntos, criando, gerando. É a arte espírita cuja responsabilidade pousa nos ombros de cada um de nós. Adentrai o palco, trazei vossa luz, trazei vossa arte, vossos temas espíritas. A codificação é eloquente e rica, não precisamos de inspiração fora dela, nossos trabalhadores são os artistas de Jesus, não precisamos de mãos externas, essas mãos irão se juntar às nossas, porém no momento oportuno.
Vamos vibrar para que nossa pequenina luz ainda que fosca, possa se unir à do irmão da outra casa espírita. Surgirá daí o verdadeiro contexto da união, alicerçado primeiro no trabalho lado a lado nos "palcos" da vida. Vamos arejar nossas casas mentais e manter nossos canais limpos, para que através dos atributos básicos que nós espíritos temos e que são o Pensamento e a Vontade, possamos conduzir esta "grande família unida" A CAMINHO DA LUZ.
Evangelização de Espíritos- Núcleo Santos/SP

Arte espírita, arte!

Limitado seria eu, se te inserisse apenas na arte com temática espírita, ou na arte ditada pelos espíritos "desencarnados", na arte da nova era, na ferramenta de divulgação da doutrina, ou naquela que é poderosíssima para educar. Limitado seria ainda meu raciocínio se tentasse te enquadrar limitando-te a estilos, modas ou períodos.
Na educação seria onde grande aproveitamento terias, mas é algo além disso.
Arte espírita é a arte do amor. Do saber doar, do saber amar.
É esta arte que vai te modificar interiormente, pois se queres expressar o belo com dignidade e verdade, tens que ser belo interiormente, dignamente e verdadeiramente.
Esta arte projeta-se para apenas uma pessoa do público: Jesus.
Recebe como pagamento apenas uma moeda: evolução do ser. Inicia-se quando tu foste criado e tem como ato final, chegar ao Pai.
Teatro Espírita é aquele realizado por um grupo que sabe que o único diretor é Jesus, seu elenco somos nós e suas diretrizes estão no Evangelho.
Música Espírita é aquela em que a harmonia está compassada com o pulsar do coração de Jesus.
Poesia Espírita banha-se em rimas ditadas pelo amor do Cristo.
Pintura Espírita forja-se nos alicerces multicolores da existência do Mestre.
Não procuramos formas, mas a forma exata de expressar nossos sentimentos.
Serás bela quando meus sentimentos forem belos. Serás simples quanto mais simples e humilde buscares tua evolução.
Retratarás em quadros belos, tua transformação interior, soarás em canções sublimes quando o amor ecoar em teu coração, falarás em prosa quando em teu peito rimarem as palavras de Jesus, e representarás tua realidade quando encontrar-te em evolução constante no palco que levar ao Pai.
Fazer arte espírita afasta a platéia dos interessados e atrai a dos que te ama e te compreende. Vê no sorriso de uma criança o reconhecimento, e não nos elogios frígidos. Carrega no peito a arte do amor, a arte da evolução.
Compreender o estágio em que te encontras e planejar vôo a esferas maiores será o tema da tua arte interior.
Serás artista da luz quando clareares o porvir do teu irmão.
Serás artista do amor, quando amares plenamente a toda humanidade.
Serás artista em plenitude quando conheceres a ti mesmo, explorares tuas potencialidades e direcioná-las no caminho da tua renovação.
Inspiração não vem só dos que teus olhos vêem. Vem do íntimo de cada ser. Expressar o que tu és.
Podes mascarar nas noites de teatro, mas ao deitares, todos conhecerão tua arte. Se foi nobre ou digna, não será a platéia que te assistiu que saberá dizer, mas serás tu em conversa com o Criador que poderás avaliar.
Busca-te. Interioriza-te. Conhece-te. Ama-te. Busque o próximo.
Interage com o próximo. Conheça o próximo. Ame o próximo. Evoluam juntos.
Arte, se és ferramenta, abre meu peito como um machado, explora meus sentimentos como um buril, corrige meus erros como uma lima, corrige áreas pontiagudas, articula-me melhor como uma graxa faz com os rolamentos, prega em meu peito conceito firmes com o martelo do conhecimento, tira de dentro de mim as formas negativas como uma serra separa o útil do inútil. Concerta meu querer com as chaves da transformação.
Arte, se és ferramenta, sou tua peça. Dá nova forma a meu ser.
Sirvo-te, serve-me. Transformar-me-ei.
Evangelização de Espíritos
Núcleo Santos

Fala ao artista espírita


Para ser um artista espírita não basta só trabalhar com o conteúdo espírita cristão, mas implica sobretudo aplicar esse conteúdo em si mesmo. O Evangelho diz que a boca fala do que está cheio o coração. No coração do artista espírita deve estar o evangelho. Quão belas não serão as obras artísticas de um coração repleto de disciplina e de caridade. E como nos disse São Paulo: "A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses... tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre."
Irmão, tua responsabilidade é tua postura. Tua sintonia, é tua missão. Renove os quadros mentais de tua alma para neles esculpir tua obra de arte. Renova a qualidade de teus sentimentos para neles colher as novas sinfonias de Amor.
Leonardo Da Vinci não tirou as suas obras do nada, ele as colheu das infinitas criações mentais que emitia em profusão ao seu redor. Ludwig Van Beethoven produziu suas obras da jardinagem dos séculos, e gerou sinfonias a partir das infinitas harmonias produzidas por seus sentimentos.
O artista espírita tem como compromisso e responsabilidade tornar-se antes de tudo artífice de seus pensamentos e sentimentos.
Pintai obras de arte em vossos quadros mentais. Produzi com vossos sentimentos sinfonias de amor, harmonia e bondade. Elevemos nossa sintonia a altura de quem buscamos. Busquemos ser artistas do Cristo, Artistas do Pai, Médiuns do palco.
Esqueçamos nossas tolas vaidades, e despojados de nosso amor próprio subamos em direção ao Pai. Ampliemos nossa vibração, e como médiuns do amor possamos brilhar a nossa luz, somada a de muitos da espiritualidade maior. Luz essa a ser refletida em toda platéia.
A obrigação primeira de um artista espírita é fazer de sua vida uma obra de harmonia e beleza. "Buscai primeiro o reino de Deus e tudo o mais vos será dado em acréscimo."
Mas aquele que percorrer esse caminho encontrará flores sem conta, não as palmas da humanidade, mas o apoio e sustentação dos amigos espirituais que distribuem a mancheia sua luz.
Temos que nos tornar campos fecundos a profusão das sementes daqueles que nos inspiram. Este campo tem que estar pronto para a árvore crescer.
O Artista Espírita tem como código de conduta o Evangelho de Jesus.
Como já vos foi dito, a mostra é pura luz. É um fluxo energético de luz pulsante que é emanada por todo aquele que tem como propósito máter divulgar os postulados de Jesus, fundamentado na codificação de Kardec.
As vibrações que emanam dos irmãos que se propõem a realizar de fato um ato de criação dentro da arte, já os envolvem imediatamente neste dínamo gerador de energias.
A beleza da arte está na simplicidade e na pureza de quem trabalha com ela. O traço tremulo de um pincel, o passo incerto das sapatilhas, a pena afoita do poeta, o acorde frágil do músico e a inexperiência do ator, são infinitamente brindados e amparados por todo o plano superior que na grande maioria das vezes nos é invisível mas está sempre ativo. Amigos, estes são os nossos artistas, é essa a energia que buscamos. A conquista estética das grandes produções deve antes ser burilada, e vem depois da conquista da pureza e da simplicidade de cada um.
Nossas portas se destrancam, nossas cortinas se abrem e nossos corações pulsam de alegria. Queremos ver nossos amigos juntos, criando, gerando. É a arte espírita cuja responsabilidade pousa nos ombros de cada um de nós. Adentrai o palco, trazei vossa luz, trazei vossa arte, vossos temas espíritas. A codificação é eloquente e rica, não precisamos de inspiração fora dela, nossos trabalhadores são os artistas de Jesus, não precisamos de mãos externas, essas mãos irão se juntar às nossas, porém no momento oportuno.
Vamos vibrar para que nossa pequenina luz ainda que fosca, possa se unir à do irmão da outra casa espírita. Surgirá daí o verdadeiro contexto da união, alicerçado primeiro no trabalho lado a lado nos "palcos" da vida. Vamos arejar nossas casas mentais e manter nossos canais limpos, para que através dos atributos básicos que nós espíritos temos e que são o Pensamento e a Vontade, possamos conduzir esta "grande família unida" A CAMINHO DA LUZ.
Evangelização de Espíritos- Núcleo Santos

Dança


Danço.
Não apenas por dançar, mas por sentir em cada partícula do meu corpo uma música que nunca pára. Uma música que surge dentro de mim.
Cada vez que penso em dança;
Meu corpo ganha uma vida exuberante
Um brilho que nenhum ser humano têm
Minhas mãos falam várias línguas que todos conseguem entender
Meus pés ganham vida como se dançassem sós
Meu corpo grita todas as palavras do meu espírito
Como se eu nunca tivesse falado
Isso é dançar
Isso é viver a dança.

Perante a Arte

Colaborar na cristianização da arte, sempre que se lhe apresentar ocasião.
A arte deve ser o Belo criando o Bom.
Repelir, sem crítica azeda, as expressões artísticas torturadas que exaltem a animalidade ou a extravagância.
O trabalho artístico que trai a Natureza nega a si próprio.
Burilar incansavelmente as obras artísticas de qualquer gênero.
Melhoria buscada, perfeição entrevista.
Preferir as composições artísticas de feitura espírita integral, preservando-se a pureza doutrinária.
A arte enobrecida estende o poder do amor.
Examinar com antecedência as apresentações artísticas para as reuniões festivas nos arraiais espíritas, dosando-as e localizando-as segundo as condições das assembléias a que se destinem.
A apresentação artística é como o ensinamento: deve observar condições e lugar.
Conduta Espírita
Francisco C. Xavier e Waldo Vieira – André Luiz

Cultura do espírito

A cultura do Espírito é a cultura da luz, da paz, do amor!A cultura do Espírito é a expressão sublime de seres evolvidos a Deus!Na cultura do Espírito o saber é pautado na verdade. É pautado na libertação e não na dominação.Cultura é o produto dos processos vivenciais de um povo. Povo é um conjunto de seres que dividem as oportunidades, ocupando um mesmo espaço/tempo.Na contemporaneidade vive-se cultura, no passado apreende-se cultura, no futuro constrói-se cultura.Cultura é o modo de fazer, é o modo de ver, é o modo de pensar e faz o modo de ser!Assim, imaginemos o que é a cultura do Espírito!É o modo de fazer o bem, é o modo de ver a Deus, é o modo de pensar a verdade e faz o modo de Ser Amor, Ser Luz!Implanta-se na Terra a nova Revolução Cultural! É o processo de implantação da cultura do Espírito.Na Ciência, buscar a Deus!Na Música, cantar Deus!Na Pintura, pintar Deus!Na Literatura, escrever Deus!Na Escultura, esculpir Deus!No Teatro, encenar Deus!Na Educação, ensinar e aprender Deus!Os objetivos convergem para a luz, direcionam para o bem!Conhecimentos novos sensibilizam, imagens elevadas se criam, sons harmoniosos envolvem, traços definidos despertam, contornos cheios de beleza elevam, palavras no bem articuladas educam, cenas de verdade ensinam, evangelizam!Momentos elevados da expressão do Espírito, construídos na vontade de encontrar a Deus, libertam e engrandecem o homem!Veículos de comunicação traduzem nossas conquistas de luzes! Cores, sons, vibrações harmoniosas sintonizadas com o alto envolvem a Terra! O homem se regenerou!É hora de brilhar!Edifiquemos a Cultura do Espírito, renovando sentimentos e pensamentos!Abrilhantando-nos! Refletindo as luzes do Pai!Busquemos com ardor edificar luzes em nós para edificarmos luzes na Terra!Preparemos o terreno para os cientistas do amor, os músicos da harmonia, os pintores da vida, os escultores da luz, os poetas do céu, os atores da verdade, os educadores da paz!Plantemos as bases da cultura do Espírito na terra, despertando consciências com amor e verdade!É hora de Ser! Em minha imagem a luz do Criador, enfim a meta é Ser Amor!

Dança como expressão do Espírito

E que seja perdido o dia que não se dançou uma única vez...
Nietzsche

Esse texto tem por finalidade demonstrar de maneira sucinta como a dança tem representado, através dos tempos, sua importância dentro do contexto espiritual, seja por meio de ritos em alguma religião ou crença, seja pelo simples ato de celebrar.
No espiritismo, a dança vem ganhando terreno como disciplinadora de ações e sentimentos por ser uma das expressões artísticas que pode trabalhar o corpo visando o bem estar do ser em sua essência.
A dança, além de sua importância por si só, pode auxiliar as outras artes, tornando o artista mais completo, pois desenvolve a consciência corporal, nos fornecendo dimensões maiores para expressar nossos sentimentos.
A pesquisa deste trabalho se fez mediante sites da internet e livros relacionados à dança e ao espiritismo. Alguns filmes também serviram de suporte. O trabalho da mostra de dança espírita da cidade de Araras que está na sua 7ª edição, nesse ano de 2008[1] também vem servindo como material de pesquisa de campo para que possamos teorizar e investigar a respeito da dança com temática espírita.
Sendo “a música mediadora entre a vida material e a vida espiritual” (ARMIN, in Oliveira, 1995, p.52) podendo ser usada para a dança acontecer, então, a dança também fica entre o material e o espiritual. Quando se abstém da música, ficam então os sons refletidos através das imagens que a dança pode proporcionar.
Quando o homem começou a dançar?
Acredita-se que o homem pré-histórico tenha desenhado momentos de dança nas paredes das cavernas. Movimentos que se unificados nos lembram uma coreografia fotografada. A arqueologia não deixa de indicar a existência da dança como parte integrante das cerimônias religiosas. Alguns teóricos afirmam que a dança nasceu como uma necessidade de expressão.
Os primeiros registros de atividades dançantes datam do Paleolítico Superior, quando os homens viviam em pequenas hordas isoladas, cultivando um primitivo individualismo, apenas ocupados em coletar alimentos. Não há indicação de que cultuassem alguma divindade ou acreditassem na vida após a morte, nem que possuíssem um pensamento lógico. Ao contrário, dominados pelo pensamento mágico, pareciam acreditar ser possível, através de representação pictórica, alcançar determinados objetivos: abater um animal, por exemplo. Nesse sentido é que se poderia interpretar as pinturas e desenhos encontrados nas paredes e tetos (...) a representação de figuras humanas disfarçadas de animais, numa atitude de executantes de danças mágicas destinadas a alcançar aquele intento. (MENDES, 1987, p.9).

O homem demonstra, através dos tempos, como a dança vem auxiliando seu autoconhecimento e suas variadas necessidades de se expressar. A dança muda de caráter e vestimenta através de diferentes momentos históricos, atendendo de uma maneira, talvez sutil, aquelas necessidades. As técnicas aparecem e, algum tempo depois, a negação delas. Os movimentos contemporâneos e os diferentes estilos nos dão possibilidade de um estudo abrangente sobre as diferenças apresentadas e refletidas em cada momento histórico. No entanto, não cabe a nós fazê-lo neste momento.

Papel social da dança
A dança tem sua relevância dentro de diferentes grupos sociais como, por exemplo, a escola, a comunidade e os grupos artísticos independentes.
Nos grupos espíritas, a dança vem sendo desenvolvida como parte do trabalho espiritual no qual o grupo se insere. Muitas vezes, em várias discussões acerca do trabalho espírita, os coordenadores de trabalho ainda não sabem como definir esta arte que começa a se destacar em nosso meio. Alguns grupos trabalham a temática, observando e cuidando das letras das músicas coreografadas, outros grupos tentam passar uma mensagem que tenha como base os princípios da doutrina.

Objetivos da dança na vida do espírito
A dança desenvolve ricos mecanismos de evolução do pensamento e do sentimento, pois disciplina atos e ajuda na construção de novos pensamentos e desejos. Ela pode promover no espírito um estado de alegria, afastando depressões e tristezas, quando bem direcionada. Renova seus quadros de memória de maneira prazerosa e disciplinada. Eleva o pensamento do espírito, sendo às vezes até caracterizada como uma atividade mediúnica.
A dança:
• modifica a vontade;
• reflete uma maneira de sentir;
• disciplina os sentimentos;
• ajuda a identificar as necessidades espirituais do ser e seus conflitos;
• é um processo educativo;
• processa identificação e limpeza nos quadros da memória e
• explora o pensamento e as emoções.
Acreditamos que a dança, como disciplinadora de sentimentos e conduta, deveria controlar a vaidade, dar consciência do espaço (você no espaço X espaço trabalhado), proporcionar cuidados com o corpo e a mente, com os processos mentais e com as ações como reprodução dos pensamentos.
O trabalho com crianças pode abrir uma oportunidade de vivência e convivência, disciplinando atos e abrangendo sua consciência quanto às possibilidades do corpo, sistematizando condutas.
Com adolescentes a dança disciplina e organiza ATOS, conscientiza a mente, abrange possibilidades do uso do corpo, disciplinando a sexualidade e a libido, ajuda a tratar o corpo como um instrumento do qual se faz uso, pois na doutrina sabemos que é o envoltório do qual nos utilizamos para o cumprimento das nossas tarefas (provas e expiações) no plano material.
Nos adultos percebemos uma reenergização, uma nova educação de postura e respiração e abertura de novas possibilidades de trabalho com o corpo.
O trabalho social cria oportunidades de trabalho nas áreas de teatro, expressão, coreografias e criações artísticas variadas, há valorização e entendimento do corpo, facilitando relações que estabeleçam o respeito como meta, notando-se uma preocupação maior com a saúde e também a multiplicação do trabalho.
A dança, através dos tempos, vem reforçando sua importância no contexto espiritual. Percebemos sempre a mensagem embutida nas danças com temática espírita: danças que permitem a reflexão de valores morais, éticos e espirituais.
Podemos concluir com este texto que a dança é, para alguns artistas espíritas, uma das expressões máximas do espírito, pois o artista se expõe por inteiro usando somente o corpo para sua execução.
A dança é uma aliada das artes, pois nos possibilita praticar nossa consciência corporal nos dando flexibilidade de ações. Ela é a expressão em si, pois seus movimentos podem relatar o que vai no íntimo do artista. Sendo bem trabalhada, com princípios e metas ordenadas dentro de objetivos que atendam à educação postural, moral e de consciência, a dança pode ser uma aliada no crescimento do ser humano, visto como integral, atendendo também às necessidades do espírito. Entende-se por dança, nesta dissertação, os movimentos corporais que podem ou não atender a técnicas. Movimentos que podem representar diferentes estilos e maneiras de se expressar, tendo como ferramenta o próprio corpo, trabalhado para a educação do espírito.

Sabemos que o Espiritismo contém um corpo de idéias todas elas confluentes para a edificação do ser humano em face da vida, no aqui e no agora existencial. Apesar de não ser ‘moralista’ como muitos de seus adeptos o apresentam, é moralizante em todos os sentidos, porque parte do pressuposto de que só poderemos cumprir nosso destino evolutivo orientando as ações por uma ética fundamentada no amor fraterno, aquele ensinado no Evangelho de Jesus, sejamos claro. (Tourinho, 1991: 15)

Observando a questão 127[2] do livro O Consolador, notamos que há uma questão de reforma íntima nos preceitos da pergunta sobre atividade artística. Cabe então, ao coreógrafo, trabalhar simultaneamente o que deve ser esta expressão através da dança. Além disso, a dança desenvolve a confiança, o respeito e a responsabilidade do trabalho em grupo, facilitando, assim, nossa reforma íntima.
Como escreveu Béjart (in Garaudy, 1973, p. 8)
...o homem está só diante do Incompreensível: angústia, medo, atração, mistério. As palavras de nada servem (...) o que é preciso é entrar em contacto. O que o homem busca para além da compreensão, é a comunicação. A dança nasce dessa necessidade de dizer o indizível, de conhecer o desconhecido, de estar em relação com o outro (...), e é claro, na relação máxima consigo mesmo.

Eneida Gomes Nalini de Oliveira
(Franca – SP)
eneidanalini@yahoo.com


Eneida Gomes Nalini de Oliveira – Professora de Literatura e Língua Inglesa (metodologia e prática) graduada pela Universidade de Franca (Unifran). Especialista em Língua Inglesa e Literaturas. Mestranda na área de lingüística. Participante ativa do Instituto Arte & Vida, da cidade de Franca-SP, desde a sua fundação como atriz, diretora, monitora e coordenadora de trabalhos desenvolvidos no Instituto. Formada em profissionalizante de ballet clássico pelo Instituto Musical Ars Nova, da cidade de Franca. Estudiosa na área de dança e suas diversas modalidades.










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

· OLIVEIRA, Weimar Muniz. Renascimento da arte, à luz da terceira revelação. Goiânia: Feego, 1995.
· EMMANUEL (Espírito) e XAVIER, Francisco Cândido (Médium). O consolador. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1940.
· GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Danser sa vie. Antônio Guimarães Filho e Glória Mariani. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1973.
· MENDES, Miriam Garcia, A dança. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1987.
· TOURINHO, Nazareno. A dramaturgia Espírita. Rio de Janeiro: FEB, 1991.


[1] A Mostra de Dança Espírita de Araras acontece todos os anos na cidade de Araras (SP); oficinas, estudos e mostra com temática espírita são enfatizados durante o encontro. Maiores informações: glussari@hotmail.com
[2] 127 – O preceito “corpo são, mentalidade sadia” poderá ser observado tão-somente pelo hábito dos esportes e labores atléticos?
No que se refere ao “corpo são”, o atletismo tem papel importante e seria de ação das mais edificantes no problema da saúde física, se o homem na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia (...)
“Bastará essa observação para compreendermos que a “mentalidade sadia” somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.” (1940: 81)

Espiritismo na Dança

“...Cada vez que penso em dança; Meu corpo ganha uma vida exuberante; Um brilho que nenhum ser humano tem;Minhas mãos falam várias línguas; Que todos conseguem entender; Meus pés ganham vida como se dançassem sós;Meu corpo grita; Todas as palavras do meu espírito;Como se eu nunca tivesse falado...”
Mayra Santos


Se apurarmos o nosso olhar no movimento de arte espírita, mais precisamente nas diferentes linguagens artísticas presente no movimento, veremos que, enquanto os grupos de música, os corais, os grupos teatrais representam centenas no movimento espírita, a dança ainda se move timidamente nestes cenários. Os motivos são inúmeros. Vão desde o preconceito com esta forma de arte, geralmente vinculada à sensualidade e temas menos dignos veiculados pela mídia até a falta de pessoas preparadas para trabalhar com um grupo de interessados, já que exige uma formação técnica. Nosso intuito não é o de fazer comparações, nem quantificarmos qual linguagem artística têm mais adesões no movimento espírita, apenas aguçarmos mais o nosso olhar para enxergarmos a dança no contexto do movimento de arte espírita. Apesar de se verificar um crescimento no número de grupos espíritas de dança, sua representatividade ainda é pequena em relação às demais formas artísticas.
Além de contextualizar a dança no movimento espírita, nosso objetivo é refletir sobre sua especificidade e os benefícios de sua prática de forma sucinta, baseando nossa fala na experiência de dez anos no trabalho de difusão do espiritismo na dança, do nosso contato com grupos espíritas de dança através da Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito” [1], e do embasamento teórico de pesquisadores da dança e de autores da nossa vasta codificação como Léon Denis.
Entendemos aqui, por grupo espírita de dança, um conjunto de pessoas, sejam jovens, adultos ou crianças que se reúnem regularmente para aprimorarem técnicas de dança, estudarem e montarem coreografias à luz do espiritismo, bem como realizarem apresentações.


A dança no movimento espírita

“... Sim, certamente o Espiritismo abre á arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado; e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.”
Allan Kardec

Há tempos temos observado que grande parte dos centros espíritas conta com um ou mais grupos de música, seja ele coral ou um grupo/banda de música. São muitos os grupos que lançam cd´s e fazem apresentações para público espírita e não espírita. Além disso, existem vários festivais, onde se estuda e se aprimora tecnicamente o trabalho vocal e tudo o que envolve a produção artística nessa área. O mesmo acontece na área da dramaturgia. Não podemos afirmar que toda casa espírita conta com um grupo de teatro, mas existe uma grande quantidade de grupos e festivais/encontros relativos a essa modalidade artística. Já a dança, é muito menos comum. Suas aparições se limitam a apresentações de fim de ano, onde um grupo se organiza e monta uma coreografia, geralmente turmas da evangelização infantil, às vezes aparece dentro de uma peça teatral onde há uma rápida performance ou numa apresentação de um grupo musical, onde algumas pessoas desenvolvem movimentos referentes à letra da música, ou nem isto, apenas movimentam-se seguindo o ritmo. Como dissemos anteriormente, menos comum que os grupos teatrais e musicais, existem grupos espíritas de dança, que trabalham especificamente esta linguagem artística, fazendo uso de técnicas e desenvolvendo um trabalho sério, mas em relação às demais linguagens artísticas seu número é muito reduzido.
Buscando motivos para entender, para contextualizar, tentaremos listar alguns itens que podem explicar o porquê:
Preconceito – essa palavra é um tanto quanto forte, mas buscando a ajuda de um dicionário vemos que “preconceito é um conceito antecipado; opinião formada sem reflexão, superstição, prejuízo”. Acreditamos que essa palavra cabe aqui em nossa discussão. A dança, diferente de outras linguagens, sofre com o preconceito. Geralmente quando se fala em dança, a maioria das pessoas a liga a sensualidade, a sexualidade, a imagens estereotipadas passadas pela mídia. Segundo OSSONA (1984), a dança, que muitos historiadores apontaram como a mais antiga das artes, é paradoxalmente – em sua forma culta – a de mais recente aparição entre nós. Somado a isso, temos o pouco acesso que a maioria das pessoas tem a espetáculos de dança, contribuindo para que seja criado um preconceito, já que o modelo mais próximo é o passado pelos veículos de comunicação ou referente a própria cultura regional em que o sujeito está inserido. Essa questão é muito interessante, porque estudando a dança em outras correntes religiosas verificamos o mesmo conflito, a mesma dificuldade nesta linguagem artística.
Outro fator está relacionado com a sua própria especificidade. A música e a dramaturgia têm a palavra a seu favor, o que facilita o entendimento da mensagem que se queira transmitir. Já na dança, é preciso criar um movimento sem o uso da palavra, o que nem sempre é tão fácil. A coreografia é criada sem um roteiro pronto, que se encontra numa obra, mas num roteiro que se constrói da interação do estudo da doutrina com a criação de movimentos relacionados com a mensagem que se queira transmitir ou fazer sentir. Daí encontrarmos muitas pessoas com formação técnica na dança nos fazendo a clássica pergunta: Espiritismo na dança, como fazer?
A ausência de pessoas com formação técnica na área e que tenha conhecimento da doutrina, às vezes representa um empecilho, principalmente para os grupos que estão começando, pois apesar de terem um respaldo técnico de um profissional da área, a montagem da coreografia se torna encargo do grupo, já que exige estudo e conhecimento da doutrina espírita.

O objetivo de listarmos esses itens, não foi de qualquer forma o de fazermos um levantamento das dificuldades encontradas, mas de tentarmos entender porque a dança ainda aparece tímida no movimento de arte espírita, enquanto as demais modalidades aparecem de forma mais expressiva.
O panorama da dança no movimento de arte espírita vem se ampliando. Muitos grupos têm sido criados e os já existentes buscam aprimoramento técnico e doutrinário. O objetivo maior é a união dos grupos para que se ajudem mutuamente compartilhando experiências, produzindo materiais, organizando mostras, enfim, crescendo juntos.

Novos horizontes


“Usa a criatividade e a beleza da Arte para modelar o protótipo ideal do "homem novo" que será aquele que hoje se apresenta à tua frente como Espírito sedento de educação com amor”.
Autor desconhecido


Segundo ACHCAR (1980), a dança em sua forma elementar é uma necessidade natural e instintiva do homem exaurir, pela movimentação, um estado emocional. É a arte do movimento e da expressão, onde a estética e a musicalidade prevalecem.
A dança, como as demais formas de arte acompanham o homem no seu processo evolutivo, evoluindo com ele.

“Como há evolução nos seres, há evolução nas artes. Têm-se os primitivos nas artes da mesma forma que nas ações e nas virtudes, porém a centelha sempre brilha nas condições nas quais pode manifestar-se para afirmar a grandeza de Deus.” (Dennis, 1922, p.77)

Isto se torna claro se voltarmos nosso olhar ao homem primitivo e suas manifestações ainda desordenadas e instintivas e caminharmos com ele e sua dança pelo Egito, Assíria, Pérsia, índia, China, Grécia, Roma e Europa Ocidental, prosseguindo pela Idade Média, Renascença até nossos dias.
A prática da dança permite ao homem enriquecer tanto qualidades físicas, como psíquicas e espirituais. No que diz respeito as primeiras podemos citar: a beleza corporal, a visão, a precisão, a coordenação, a flexibilidade, a tenacidade, a imaginação, a expressão, o trabalho em grupo, a cooperação, entre tantos outros benefícios. Mas é no campo espiritual que entendemos toda a sua extensão:


“Assim como a música trabalha com os movimentos interiores da alma, a dança exterioriza os movimentos do seu mundo interior. Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo. A emoção vibra em seu coração e se exterioriza nos movimentos harmônicos do corpo, que representam os movimentos interiores da alma. O artista abre espaço no próprio espaço para a sua vibração que se expande além do visual e atinge o expectador que pode captar, não só pelos olhos e pelos ouvidos, mas entrando em sintonia com essa vibração.” (Alves, 2000, p.206)

Daí a importância fundamental da reforma íntima, o grande diferencial que transforma nossa arte e nos transforma. O objetivo primeiro de todo grupo espírita de dança – modificar-se.
Finalizando nosso artigo, acreditamos que muito há o que ser estudado e pesquisado acerca da dança no espiritismo, estamos no limiar de um processo, mas o futuro depende do nosso trabalho no hoje.
Sabemos que há um longo caminho pela frente, cheio de pedras e às vezes espinhos, mas as flores e as alegrias nos esperam na medida do nosso esforço por renovarmo-nos. Assim, num equilíbrio perfeito, o que deve nos mover é a busca pela técnica para que o nosso instrumento de expressão se torne cada vez melhor e a busca pela melhoria interior, para que sintonizados com o Alto possamos expressar pela dança nossa essência divina que emana de Deus.

Daniela Luciana Pereira Soares

Referências bibliográficas:

ACHCAR, Dalal. Balé uma arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
ALVES, Walter Oliveira. Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita: Teoria e Prática. 1ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2000.
DENNIS, Leon. O Espiritismo na arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1994.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 3ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1995.
OSSONA, Paulina. A Educação pela Dança. São Paulo: Summus, 1988.
ROCHA, Ruth. Minidicionário São Paulo: Scipione, 1995.

[1] A I Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito”, aconteceu em 5 de Outubro de 2001 no Instituto de Difusão Espírita, na cidade de Araras/SP. Ela foi criada e idealizada pelos integrantes do Grupo Espírita de Dança Evolução.
Observando que dentro do meio espírita é muito comum se verem manifestações artísticas na área do teatro e música e muito raro na área de dança, resolveram organizar uma mostra de dança espírita, com o intuito de: divulgar e valorizar a dança como forma de expressão artística dentro do movimento espírita, propiciando espaço para que ela se desenvolva; promover a integração e a troca de experiências entre diferentes grupos espíritas de dança; estimular criação coreográfica embasada nos ensinamentos espíritas (nas obras básicas da codificação); propiciar o estudo e reflexão acerca da arte espírita. Em sua primeira edição, a Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito”, contou com a participação dos seguintes grupos: Grupo JECAL – São Paulo/SP, Grupo Sáphyra - Recife/PE, Grupo FEH – São Paulo/SP, Casas André Luiz – SP/SP, Grupo Arte Vidinha – Franca/SP, Grupo de Dança Apae – Araras/SP, Grupo Espírita de Dança Evolução – Araras/SP e Grupo Graça e Luz – SP/SP. Desde então, a Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito” nunca mais parou, realizou-se a segunda em Dezembro de 2002, contando com a participação de além dos grupos já citados, dos grupos de Leme, Pirassununga e de participantes de Campinas, Araraquara e São Carlos. A Mostra hoje, está na sua 7ª edição.

Dança na Educação do Espírito

(Trechos do Livro: Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita – Teoria e Prática – Walter Oliveira Alves – IDE Editora)

“Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo.”

Embora menos comum no meio espírita, a dança vem ganhando cada vez mais espaço e demonstrando sua capacidade de sensibilizar.
A dança, embalada ao ritmo suave de melodias sensibilizadoras pode provocar emoções dantes nunca sentidas.
O espírito Camilo, em Memórias de um Suicida, narra um espetáculo cuja beleza “atingia o indescritível, quando, deslizando graciosamente pelo relvado florido, pairando no ar quais libélulas multicores, os formosos conjuntos evolucionavam...” O empolgante espetáculo era acompanhado de “orquestrações maviosas onde os sons mais delicados, os acordes flébeis de poderosos conjuntos de harpas e violinos (...) arrancavam de nossos olhos deslumbrados, de nossos corações enternecidos, haustos de emoções generosas que vinham para tonificar nossos espíritos, alimentando nossas tendências para melhor (...)”. Os espíritos, suicidas, cientes de sua condição e dos sofrimentos e desafios que os aguardavam, sentiam-se fortalecidos em sua vontade de crescer e se elevar.

A arte trabalhava com a energia volitiva, levando-os a querer evoluir, a querer melhorar-se.
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Quando nosso grupo de dança* foi formado as diversas turmas de evangelização estavam trabalhando a primeira parte de O Livro dos Espíritos, o tema Criação. Foi proposto ao grupo uma coreografia que desse a idéia de Evolução, idéia que, de início, pareceu arrojada demais.
No entanto, grupo se empenhou no trabalho, escolhendo as músicas com cuidado que, em poucas semanas, tínhamos uma coreografia representando toda a evolução, desde os seres unicelulares até o homem. A emoção foi intensa, e todos perceberam as possibilidades quase infinitas da dança**.
O grupo de dança, que recebeu o nome de Evolução, foi, durante muitos anos, o mais profícuo em criatividade e dinamismo***.

* Referência ao “Grupo Espírita de Dança Evolução”, criado em Dezembro de 1995 no Instituto de Difusão Espírita.

** Importante citar, que na formação do grupo, nenhum dos integrantes nunca havia feito uma aula técnica de dança, apenas uma jovem, que a partir de então assumiu a coordenação do grupo.

***O Grupo Espírita de Dança Evolução chegou a ter mais de cem integrantes, entre crianças, jovens, adultos e idosos e, ainda hoje, continua desenvolvendo o mesmo trabalho, agora também com deficientes físicos.


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Acreditamos ser indispensável, para iniciar o trabalho, alguém com curso de dança e que, acima de tudo, realize a tarefa com muito amor. Todavia, temos a certeza que os trabalhadores sinceros estão por toda parte.
As possibilidades de criação poderão variar ao infinito.
Talvez o mais importante, seja manter no grupo o espírito de união e cooperação. E o cimento que dá coesão a toda obra desse porte é o amor.
A técnica é necessária, mas o amor ao trabalho bem feito, o amor à arte é indispensável.


“Assim como a música trabalha com os movimentos interiores da alma, a dança exterioriza os movimentos do seu mundo interior. Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo.A emoção vibra em seu coração e se exterioriza nos movimentos harmônicos do corpo, que representam os movimentos interiores da alma. O artista abre espaço o próprio espaço para a sua vibração, que se expande além do visual e atinge o expectador que pode captar, não só pelos olhos e pelos ouvidos, mas entrando em sintonia com essa vibração.” ( Educação do Espírito. Walter Oliveira Alves. IDE Editora – Cap. 8 – item 6)